quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Bolsa alienação, e ocaso da razão.

       O Executivo estima que os gastos totais para a Copa FIFA-14 serão de R$ 23,5 bilhões, o Senado em R$ 40 bilhões, já a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base, “projeta”, por enquanto, e sem aditivos, que tais dispêndios superarão R$ 80/85 bilhões. Não inclusos os gastos diretos da malfazeja politicalha Municipal e Estadual, além das isenções/renúncias fiscais e previdenciárias, e que na LDO (orçamento federal até 2015) constam apenas pela sigla NI (não informar?). Mister citar ainda a RDC, constituída pelo Executivo e aprovada pelos representantes do povo para que este não tenha clareza na leitura dos gastos da Copa e das Olímpiadas. Fatalmente chegaremos, ou ultrapassaremos R$ 100 bilhões (US$ 60 bilhões) para que a “bola corra como nunca correu no Brasil” ou no mundo.

      As três últimas versões de tal evento custaram juntas US$ 30,4 bilhões; foram construídos 27 estádios e reformados outros 15. Sequer faremos ¼ disso, e o nosso orçamento aproxima-se de US$ 60 bilhões – o dobro do custo das três últimas edições juntas. No Japão e Coréia (2002) acorreram 327 mil turistas, e os investimentos em estádios não apresentam pleno retorno até hoje, mesmo adaptados a outra atividades e posterior passagem à exploração privada ou uso por Universidades. Na Alemanha (2006), foram construídos apenas dois estádios e reformados outros dez – obteve-se o maior retorno, mas não o suficiente para o resgate daquilo empregado em alguns estádios. Para lá acorreu o maior público de todas as Copas - pouco mais de 820 mil turistas, e o maior número de espectadores em estádios - 3,4 milhões (ingressos vendidos). Na África do Sul (2010), foi empregado pelo Estado US$ 8,4 bilhões e construídos cinco estádios e reformados outros cinco. O lucro declarado pela FIFA foi de US$ 4 bilhões, o maior de todas as Copas. Cinco estádios mal abriram depois da Copa, e ainda permanecem os graves problemas sociais das “cidades de lata” - containers onde em 2008 acomodaram milhares de famílias desapropriadas para construção de estádios. Os hotéis construídos e dimensionados para um milhão de turistas, apenas receberam 409 mil, e estão às moscas, alguns parcialmente fechados. Assim parte da população da Cidade do Cabo “reside” em containers, cinco estádios fechados, governo endividado e por aqui falam de um “legado extraordinário” em Aeroportos e uma espécie de Metrô. Tal legado sequer chegou a 1/3 do total gasto; estádios também foram bisonhamente superfaturados aos auspícios e exigências da FIFA. Para que mais serviu a Copa na África além do lucro extraordinário a esta infame entidade? No Brasil será diferente?

       Faltam mil dias para a festa inaugural deste circo mambembe ao delírio da legião de hienas que veem nisto motivo de júbilo e defendem a realização do evento custe o que custar. Um promíscuo balcão de negócios regado com recursos públicos, ensejando a corrupção e a prostituição política que corre livre, lépida e solta, garantida pela promiscuidade da RDC. Legalizaram a negociata. Em provável jogo de cena, o Ministério Público agora se preocupa com a “explosão” dos custos dos estádios. Preocupação atrasada e inútil daquilo que está em curso e definido - custarão mais que o dobro ou o triplo do que se fossem construídos na Europa. Há provas concretas disso. Relutar ou afirmar que estes recursos são distintos ao que se aplicaria em áreas sociais é hipocrisia ou soberba ignorância, tal qual o é projetar legados ao custo exorbitante a que se estima serão construídos.

   Trata-se em verdade do Bolsa alienação -Panis et circenses”, o nutrimento do retrogrado populismo, numa oferenda aos analfabetos políticos e desregrados da cidadania, para que assim se mantenham e votem em crápulas nas próximas eleições. São “OS ALIEANADOS LESAS – PÁTRIA da nação de chuteiras”.

          Neste “ambiente de negociata”, o Sebrae informa ter realizado estudo - provável publicidade do evento “populista”, em que propala  “que somente em SP, a Copa irá gerar R$ 10 bilhões em negócios às pequenas e microempresas”. - Como neste país falar em R$ 10 bilhões ou R$ 10 mil é a mesma coisa, tal leitura passa despercebida à maioria das pessoas. Pergunta-se: - Qual seria o valor se incluíssem nesse debochado raciocínio, as grandes corporações que realmente faturam de forma significativa com eventos dessa ordem além da FIFA? Se apenas quatro ou cinco jogos rendem tanto – que se faça a Copa sempre aqui! Quanto ao calibre do otimismo desse “esboço publicitário”, a história nos dirá a verdade. Quanto aos fundamentos e citações do legado, não há estória que possa dar substancia ou corroborar com a ilusão propagandeada e enganosa. Sequer observa o que está delineado, e nem traça analogia ao que ocorreu com as instalações dos alegados legados que diziam estar planejados para os jogos Pan-americanos. Antes de tamanha euforia publicitária (falaz) ao que ensejam a Itaquera, por exemplo, dever-se-ia analisar o que ocorreu com o Engenhão, que ficou quatro vezes mais caro do que o já caro orçamento inicial e cujo, então alegado legado ao entorno, não passa de um estorvo à segurança pública num local de abjeto convívio social, tal qual também o é nos Estádios da África do Sul.
  
          Qualquer jogo no Brasil será motivo de júbilo nas cidades sedes, nos Estados, e quiçá no país. Essa brincadeira populista custará um absurdo a nossa economia, e a nossa sociedade. Ao povo, lamentavelmente, tudo é, e será festa, em especial aos que se refastelam com o BOLSA ALIENAÇÃO, e nisto ao que observo não há classe econômica e nem mesmo cultural; o que demostra que o vírus do marasmo da cidadania, do populismo, e do analfabetismo político toma conta da sociedade dormente na imbecilidade e que vê no futebol uma fuga ao desordenamento moral generalizado da nação.  

         Oswaldo Colombo Filho
     Diário de Goiás 21/09/2011
O Estado de S.Paulo 09/10/2011

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