segunda-feira, 7 de maio de 2012

E mais uma vez o poupador paga o pato

Ouve-se e veem-se na imprensa, várias explicações pela aritmética imposta às futuras remunerações das cadernetas de poupanças em face do decréscimo da taxa Selic. A fundo, o propósito decidido pelo governo e pelo qual muitos se esmeram em dar as mais variadas explicações é um só: - manter viável e atraente a remuneração nos títulos e fundos lastreados pela dívida pública do Tesouro, evitando a possível concorrência predatória das cadernetas de poupanças. Mais uma vez a cantilena, “poupe que o governo garante”, merece uma visão mais clara. Baixam a remuneração que iria para os poupadores, porém é fato que “deveriam baixar esse repasse (juro/custo)” ao financiamento de imóveis; porém já foi colocado que não o farão aos contratos antigos apesar de captarem doravante a menor custo, gerando notável margem de ganho à agiotagem institucionalizada. Se a relação fosse contrária, ou seja, doravante captar com maior custo (taxas maiores), não tenham dúvidas que os juros então contratados pelos devedores imobiliários subiriam, mas como a Selic caiu, azar dos já signatários. Trata-se de via de uma única mão – fluência ao bolso do governo. Ainda nesse sentido de tráfego, e em paralelo, o governo ao valer-se de baixar o rendimento real da poupança popular e manter viável o financiamento do magnânimo e desleixado déficit público, isenta-se de tocar na parte que lhe toca que são as alíquotas de imposto de renda incidentes sobre estas aplicações, de tal forma que o rendimento líquido daria melhor performance concorrencial ao rendimento das poupanças. Sempre  alguém cede, menos a carga fiscal que sustenta a incompetência e mais notável  irresponsabilidade da execução dos maiores gastos das arrecadações recordes da história desse país.

Em resumo, a manobra e que parece ser nas primeiras análises justificativas a um equilíbrio de mercado, são em verdade mais uma atitude do governo em manter o nível arrecadatório de IR no mercado financeiro, que representa enorme fonte de recursos ao Tesouro; assim claramente desencentivando a poupança  num cenário de baixa Selic, levando essa massa de capitais onde possam sofrer incidência tributária e que hoje são isentas. Da mesma forma amplia-se a arrecadação como base na “publicidade explícita”: do “endivide-se e consuma”, com a arrecadação de IOF.

Muitas notícias e análises alvissareiras pela baixa taxas de juros, quiçá sustentável, ou até sem levantar a faceta politiqueira de mais uma jogada tal qual a onda de crédito de 2010; sequer atentam assim como não atentaram como em 2010 – ano de eleições; para o esgotamento do modelo dito econômico, que desde aquela ocasião fundamenta-se no simplicíssimo de que a prosperidade se dá pelo consumo, tendo criado notável endividamento das famílias. Guardada as devidas proporções, um sub-prime como na recente crise do primeiro mundo onde o mercado e consumidores americanos fizeram dívidas em cima de dívidas (hipotecas imobiliárias), até a explosão do Leman Brothers. O “neoliberalismo à brasileira”, desde FHC trás em seu bojo a liberação das importações; as concessões e privatizações – até ai obedecendo a cartilha do consenso de Washington que já não funcionou pela crise mundial que provocou; porém aqui inclui-se o efeito “tupiniquim” o tamanho do Estado na economia ou no bolso dos contribuintes aumentou de 25% para 36% (carga tributária); portanto não falta ocasião em que o governo não queira morder mais.       

Nesse imbróglio, em havendo prejuízo,  o único que pagou ou pagará o pato será o pequeno poupador, que acreditou que o Governo também garantiria nos planos econômicos Bresser; Verão; Collor I e II. Passou por expurgos, índices tirados da cartola pelos bancos para fajutas correções de saldos e até sofreu confisco. Até hoje, passados vinte anos, o STF continua “sine die” para decidir, aquilo que milhões de poupadores, já ludibriados aguardam que é o ressarcimento daquilo que foram vilipendiados pelas Instituições Financeiras há vinte anos. Decisão final a uma questão já deliberada em dezenas de milhares de sentenças em todas as instâncias da Justiça brasileira.                 
        Oswaldo Colombo Filho
O Estado de S.Paulo 07/05/2012