terça-feira, 21 de junho de 2011

Compromisso com a razão

           Não é possível ouvir de autoridades que gastos públicos, cobertos pela arrecadação de impostos, não serão submetidos à apreciação normal, seja pela forma de apreciar licitações, seja pela forma como órgãos fiscalizadores possam e devam apreciar e se manifestarem. "Pior a emenda que o soneto" quando a "pseudopresidente" nos informa pela imprensa que isso tão apenas não ocorrerá para o público, a Nação, ou seja, os contribuintes que custearão o circo que será a Copa e a Olimpíada. Fica claro que veremos o circo, mas não querem que tenhamos chances de saber do "espetáculo do crescimento de fortunas", dos desvios de verbas, da pouca-vergonha e da imoralidade.

          Daqui em diante, e com os acontecimentos das últimas semanas, torna-se claro que não há mais instalada no Planalto, nem em nenhum dos Poderes, a mínima condição de consciência moral a conduzir esta Nação. Tal desqualificação vem, pela nula qualificação, pela expressa incompetência e agora pela acintosa forma de possibilitar o desfalque do erário, que, a bem da verdade, já começou pela mitomania de quem se arvorou em imperador do Brasil e trouxe para cá tais jogos, que não passam disto: jogos com cartas marcadas, jogos para o azar da Nação brasileira, que tantas prioridades possui antes dessa patética aventura.
           A corrupção, que estava deflagrada e constituída, agora foi legalizada. O bom senso nos reporta que o poder foi tomado de assalto, as instituições não existem e perderam seus princípios morais. A sociedade humilha-se na imbecilidade e mediocridade sem se manifestar. Triste penal vivemos. Até quando? "Maior que a tristeza de não haver vencido é a vergonha de não ter lutado!", disse Rui Barbosa.

Oswaldo Colombo Filho
Jornal O Estado de S.Paulo -  20/06/2011

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Wall Street Journal e Mantega

Nas sombras e despercebido dos noticiários graças a tantos encantos, desencantos e escândalos no Planalto; veio o Wall Street Journal escarafunchar na calmaria em que o Ministro da Fazenda estava. Analisa o periódico os males do excesso de crédito em passado recente a dinamizar a economia; o chamado - "espetáculo do crescimento de Lula da Silva"; e decorrente pressão inflacionária como herança "bendita" para Dilma. Na verdade pouco cita além da bestialidade populista de desperdiçar recursos em uma Copa do mundo; Olimpíadas e altas taxas de juros. 
Mas o sentido das colocações poderiam se completar; naquilo que o ministro não alude publicamente como a expansão da base monetária que medida pela média dos saldos diários (fonte BC) teve um aumento nominal de 183% entre 2002 e 2010 - e 13,4% de incremento em relação ao PIB no mesmo período. Ignorar os mandamentos da teoria quantitativa da moeda assim como os indicadores que em passado recente, na febre de crédito apontaram para essa situação que ora vivemos foi e é um erro. Um absurdo; vendeu-se o jantar para pagar o almoço. 
O atual ministro era o mesmo, e fiador durante a campanha eleitoral de que não haveria problemas. Isto era impossível pela simples dinâmica da economia internacional onde os juros internos brasileiros, mesmo que não elevados fossem agora, continuariam em altos níveis atraindo capital especulativo, inflando o crédito fácil; e se agora o BC não elevar os juros pior ficará. Se correr o bicho pega, e se ficar o bicho come. O efeito multiplicador da base M1 (efeito multiplicador do crédito gerado no sistema financeiro), aos meios de pagamento no conceito M4 (papel moeda/depósitos a vista/poupanças/investimentos/títulos públicos etc.) causou um aumento nominal entre 2002 e 2010 de 274%; ou um incremente real ao PIB de 50,5% no mesmo período.
Fale o que falar, e se assim desejar a quem acreditar, mas bem deve saber o ministro, que tão somente muita severidade nas contas dos gastos governamentais, e que como noticiado dias atrás aumentaram, poderá haver controle eficaz da pressão inflacionária fruto da libertinagem de gastos no reinado de Lula da Silva. Lamentavelmente, não é esta a visão do governo e do congresso de moral desvalida além de um ministério incompetente. Nossa chance é da Presidente Dilma virar a mesa. Assim esperamos.
Oswaldo Colombo Filho 
Jornal O Estado de S.Paulo - 15/06/2011

A mítica sobre a extradição de Battisti

Tal qual muitos, estranho a decisão da concessão de asilo pelo STF e provável cidadania a uma assassínio julgado por uma nação democrática e soberana. Afinal, trata-se de um cidadão italiano julgado pela Justiça de seu país por crimes cometidos em solo próprio. O elemento escafedeu-se, entrou sorrateiramente no Brasil, tal qual fizera anos antes Tommaso Buscetta, que aqui viveu com o nome falso de Paulo Roberto Felici e até se casou com uma brasileira. Descoberto e preso, teve sua extradição solicitada pela Itália, que foi concedida nos mesmos termos dos acordos que foram também solicitados para o caso Battisti. Buscetta tentou valer-se da patente situação de ser jurado de morte e por ser casado com uma brasileira. Nada disso adiantou. Prevaleceu a tese da soberania prévia pela decisão da Justiça italiana, além dos acordos internacionais. Foi extraditado e cumpriria pena de 20 anos. Tal qual Battisti, havia sido julgado a revelia: cumpriu cinco anos, beneficiado por delação premiada (processo Falcone), e depois foi extraditado para os EUA, onde auxiliou o governo local na delação de criminosos e viveu até sua morte no programa de proteção a testemunhas. De fato, era um jurado de morte. A decisão para Battisti foi outra, apesar de todas as semelhanças e de ambos constarem da lista de procurados pela Interpol, e de serem abrangidos em todas as cláusulas dos acordos internacionais vigentes entre Brasil e Itália.

Aqui, neste democrático Fórum do Estadão, alguns acham que esse tema é "disco riscado"(?); outros acham que toda essa polêmica é por versar sobre um "terrorista de esquerda" (?). Discordo, e com veemência! Trata-se do pior e constante evoluir de nossas instituições e de péssimos caracteres de cidadania em nossa sociedade, em que pesem valores éticos e morais.

Destaca-se o Poder Judiciário, e as palavras do ministro Joaquim Barbosa, que rasgou a Constituição ao tacitamente submeter o Judiciário ao Executivo pelo que este "decida está decidido". Bem se sabe que, sem independência dos três Poderes constitucionalmente estabelecidos, promulga-se uma republiqueta das bananas; ou melhor, uma ditatura populista, quando o Legislativo e Judiciário são servos do Executivo; assim estamos sr. ministro? Quanto aos ignóbeis defensores do "faça o que fizer, pois meios justificam os fins", tal qual Battisti e seu PAC, vale dizer que que não mais existem no mundo civilizado terroristas de esquerda ou de direita, todos são apenas criminosos. A ideologia política, religiosa, racial não mais justifica crimes em lugar algum, portanto, não há crimes justificáveis para cidadãos inteligentes e inteligíveis praticarem e se justificarem a posteriori. Criminosos, escroques, não têm partidos nem pátria e é lamentável que em nosso país haja tantos que vêm a público defender "o meu pode porque o seu fez", "o disco está repetido, pois o cara é da esquerda"! Cidadãos que têm ouvidos ouçam e os que têm olhos vejam: nossas instituições e o populismo são cegos guiando cegos. O caso Battisti é uma mostra de valores subvertidos, desde a ordem constitucional até a moralidade de parte da sociedade notadamente afetada pelo populismo que avilta e ignora a temperança.

Oswaldo Colombo Filho
Jornal O Estado de S.Paulo -14/06/2011