terça-feira, 27 de dezembro de 2011

O norte-americano, não dá ponto sem nó.

         
      Bastou ao Congresso norte-americano não revalidar a sobretaxação sobre o álcool importado do Brasil, em US$ 0,54/galão, para que os nossos sheiks do setor sucroalcooleiro festejassem. Não é para menos, trata-se do maior mercado do mundo para o álcool combustível sendo que o nosso produto, derivado da cana de açúcar, é bastante competitivo ao que lá é produzido ao mesmo fim. Tal mecanismo de proteção aos produtores norte americanos, foi implementado pelo então presidente Jimmy Carter há 30 anos. Segundo fontes locais, os produtores já estão mais aptos à concorrência, mas em essência o que ocorreu, o Brasil no transcurso desse tempo deixou de ser o maior produtor mundial; ou seja, dá menos peso à formação dos preços internacionais dessa commodittie. Em suma, tal liberação à importação ocorre, apesar da crise que assola a economia local, pois é mais vantajosa ao jogo e interesses norte-americanos. Senão vejamos, a quem isso trará mais vantagens do que ao próprio consumidor americano?


       Os veículos flex no Brasil podem e devem usar gasolina como combustível; até porque a miúde, a relação custo benefício não se dá na analogia de preços de 70% do preço do litro do álcool para cada litro da gasolina (como dizem), mas sim pouco acima de 60% posto que o etanol implica em maior efeito ao custo de manutenção. O álcool combustível, em sua produção incipiente não apresenta relação favorável de custos ao usuário como a gasolina, além de ocupar terras nobres como no interior do estado de São Paulo (qualidade do solo e proximidade com mercado consumidor) que deveriam ser priorizadas para produção de alimentos. Como? No mínimo não concedendo ali benesses de apoio do BNDES; e dali excluindo as renúncias fiscais dos produtos sucroalcooleiros que se destinassem à exportação. Socialmente e não só financeiramente  aos “senhores de engenho” o fator uso do solo seria mais adequado e apropriado à nação; tal qual se faz na Europa e na Ásia.


Como já colocado, mesmo assim já (antes da decisão norte-americana) exportamos etanol; o que por si eleva a pressão sobre o mercado interno na forma de falta de produto e, por conseguinte eleva os preços. Apesar dessa ambiguidade, exportamos concedendo até renúncias previdenciárias , para azar dos aposentados da iniciativa privada; pois o segmento sucroalcooleiro, além de receber grande atenção do BNDES no governo Lula, com empréstimos a taxas reais negativas, faz parte de uma elite de segmentos empresariais que receberá R$ 150 bilhões em isenções ou renúncias de receitas ao Fisco no ano de 2012.  


Importamos o etanol mais caro, e o que menos 
reduz as emissões dos gases que causam efeito 
estufa. E exportamos o melhor em todos os 
sentidos e produzido em terras potencialmente 

nobres ao sentido socioeconômico nacional.      
     
         A produção de cana de açúcar na safra 2011/2012 tem estimativa de queda de 10% e à produção de etanol estima-se a queda de 29%. Este cenário, isoladamente já apresentaria fonte de preocupação ao mercado interno de combustível. Na contramão desses números, a entidade que representa o setor (UNICA) estima que as exportações para os Estados Unidos subam do atual patamar de 1,5 bilhão de litros/ano para 13,5 bilhões litros/ano (10% do consumo norte americano) E o nosso sonho em obter um custo menor por km rodado com a magnificência tecnológica dos nossos motores flex? Sobrará algum etanol? Só o tempo dirá; porém o que já sabemos é que o governo petista quase nada fez em termos de refinarias de petróleo, fala em pré-sal e autossuficiência num discursionismo que apenas perde para incompetência que lhe assoberba a cântaros, em especial na área energética e no planejamento a médio e longo prazo. 

         Na prática os norte americanos, que nunca dão ponto sem nó, compram o nosso álcool para que deles compremos gasolina que não produzimos em nossas colunas de refino. Num cenário ainda de oferta restrita de etanol e elevados preços do produto, a Petrobras vai conviver em 2012 (e até 2014 pelo menos), com mais um ano de importações crescentes de gasolina a fim de suprir a frota de veículos flex (?) do país.

"ARÁBIA DOS BIOCOMBUSTÍVEIS
        De janeiro a novembro, deste ano o Brasil importou, em média, 45 mil barris diários de gasolina, 400% a mais do que a média diária de 2010. Há previsões de aumento de pelo menos 10% a 15% desse volume somente no 1º trimestre de 2012, para azara da balança comercial brasileira. Até o início de 2010 o Brasil era exportador de gasolina, e bastou o incompetente governo, e que não possui política econômica, e nem planejamento energético fazer uma lambança em torno do pré-sal, e não criar um mercado regulador do etanol para passarmos a ser um considerável importador mundial de gasolina; coisa que já havíamos deixado de fazer desde o início dos anos 70.  Aquilata-se o peso da falta de política e competência no governo pela análise da balança comercial da Petrobras (empresa pública), que até setembro último, apresentava um saldo negativo de US$ 3,4 bilhões, contra um superávit de US$ 102 milhões em relação ao mesmo período do ano anterior. Enfim, os que ganharão a curto e médio prazo; serão fatalmente os consumidores americanos e não os brasileiros, e provavelmente em longo prazo também serão os “senhores de engenho”, tal qual no tempo das capitanias hereditárias. O custo da utilização e qualidade do combustível, num país com péssima estrutura de transportes como o nosso, tem notável peso e dimensões significativas na vida do cidadão comum. Apenas para exemplificar, na relação de continuada elevação no custo do km/rodado, a cidade de São Paulo, em pleno horário do rush não possui nos táxis (ao contrário de outros grandes centros) um meio integrado ao sistema de transporte coletivo em razão do alto valor de suas tarifas; tão cara quanto Los Angeles e mais cara que NY, Buenos Aires, Madri, Lisboa etc.. Em relação ao nosso diesel, é o pior fabricado por um país que refina seu próprio combustível. Segundo dados da CETESB 97% da poluição atmosférica na Região da Grande SP é emanada de veículos automotores movidos por derivados de petróleo (exceção ao GNV), o que acarreta um custo fantástico à saúde pública. Se puxarmos pela memória, - não era pelo apelo de menos poluição, e pela autossuficiência que já pagamos pelos experimentos do fracassado Programa Proálcool e agora vimos o governo petista chamar o Brasil de “Arábia dos biocombustíveis? Mais um sonho das mil e uma noites que se esvai na notável perseverança da incompetência que trata a “arte de governar” na cisma de enganar do alto de palanques ou mesmo através de notícias de meias verdades, e que não são lidas em suas entrelinhas pela sociedade tal qual em essência deveria!

     Oswaldo Colombo Filho
O autor foi Diretor Executivo da Associação Brasileira de Gás Natural Veicular (ABgnv), e  membro do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP)  
O Estado de S.Paulo 27/12/2011

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O efeito de programas sociais na Educação

Recentemente, o Ministério de Desenvolvimento Social (MDS) refutou que haja qualquer indício de que “pessoas larguem seus empregos” para receberem, ou se manterem no programa Bolsa Família. O MDS ainda informa que segundo dados do IBGE - 72% dos beneficiários em idade adulta trabalham; porém a maioria das ocupações é de caráter precário e oferecem baixa remuneração; assim o programa age sobre ¾ dos assistidos como complemento de renda, ou seja, transferência aos ali considerados hipossuficientes.

O mesmo Ministério informou em fevereiro do corrente ano, através de nota, quando o programa passou a integrar 12,9 milhões de pessoas, que:-Estudos mostram que o programa de transferência de renda do Governo Federal, que tem por objetivo combater a fome e a pobreza, ajuda também a reduzir a desigualdade. Outra contribuição importante do programa é o efeito na economia do País. Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) mostra que para cada R$ 1,00 investido pelo Governo Federal no Bolsa Família, o Produto Interno Bruto (PIB) aumenta em R$ 1,44. Metade dos recursos é destinada à região Nordeste e os estados da Bahia, Pernambuco e São Paulo lideram em total de valores recebidos”.

O Ministério, sendo uma autoridade de primeiro escalão, dá conta à sociedade que a contrapartida pelo “investimento no Bolsa Família é de 44%! Fantástico, foi descoberto o “moto perpétuo da prosperidade socioeconômica no Brasil!”! Na verdade, comprova-se que este país tornou-se uma república de medíocres, enganadores e sem o mínimo senso do ridículo, salvo raríssimas exceções. É intrigante qual investimento possa render tanto? Os que assim rendem não estão no portfólio de pessoas integras e honestas; porém, alguns na fantasia dos populistas, falsos profetas, pois fazem tudo para se preservarem no Poder, mentindo cada vez mais e nem se dão conta do ridículo de afirmações tomadas de forma parcial e ao entendimento bizarro de algum ilustre lotado em um cargo de confiança. Conclui a nota da autoridade de primeiro escalão:
-“A complementação de renda, com o pagamento do benefício, está aliada ao cumprimento de condições nas áreas de educação e saúde. Frequência escolar abaixo dos índices exigidos; falta de acompanhamento de exames pré-natal e crianças sem vacinar podem levar ao bloqueio e ao cancelamento do benefício”.

Portanto, segundo o MDS trata-se de um programa de transferência de renda, tendo como contrapartida combater a desigualdade; - entende-se ascensão social dos beneficiados pela educação recebida e pela saúde preventiva a que devem submeter-se sempre a controle do Estado.

Afirmar que não ocorrem desvios, desacertos, e até descaracterizações ao interesse social do programa chega a ser uma hipocrisia diante de tantos fatos já revelados pela imprensa e denunciados pelo Ministério Público. O programa Bolsa Família apresenta em seus aspectos as vicissitudes do assistencialismo, além da cabal aculturação brasileira que se rende aos valores éticos da “saga de levar vantagem em tudo”. Um verdadeiro programa destinado à elevação socioeconômica de parte da sociedade, deve forçosamente pautar-se por premissas e condicionantes à evolução dos indivíduos ali inseridos, caso contrário será um programa de mera sustentação assistencial. A auto sustentabilidade desse grupo, em patamares sociais mais elevados e aceitáveis, no menor prazo possível é a contrapartida desejável pela nação que ali investe R$ 17/18 bilhões/ano, e que investiu entre 2003 e 2010 pouco mais de R$ 83 bilhões. Lamentavelmente, o programa, apesar de dotado de propósitos nobres em seu surgimento, sucumbiu à falsa devoção de homens públicos, em especial pela governabilidade controversa a que foi submetido com o fito precípuo de ser um instrumento fisiológico e eleitoreiro, e assim constitui-se em mais um componente midiático do populismo.

Aos fundamentos da miséria estão sempre atreladas duas causas: (a) baixo ou nenhum nível educacional; (b) ausência do Estado em suprir os cidadãos da infraestrutura básica na saúde e saneamento. Assim, aos fundamentos e condições de elegibilidade dos beneficiários, o programa estabeleceu desde quando foi criado em Campinas, em meados dos anos 90, premissas básicas: - “A complementação de renda, está atrelada ao cumprimento de condições nas áreas de educação e saúde” - entende-se que disto decorram condições mínimas e fundamentais para a ascensão social dos beneficiados. Esta é a essência em debate. Dizer quantos e onde estão os atendidos, já faz parte da seara da politicalha, o que importa é saber se os beneficiários estão sendo alvo de transformações sociais ou não. Este é o fato que reclama provas.

três evidencias claras para se afirmar sobre a não funcionalidade do Bolsa Família nas cidades (centros urbanos). 

         O primeiro motivo é de que na introdução ou repaginação do programa em 2003, todos os anteriores foram transformados em um só. Enfim, reuniu-se num só o que a população urbana, em especial, recebia de acordo com a elegibilidade de cada programa então existente, e com benefícios próprios à complexidade de suas necessidades. Assim, a área assistencial era voltada distintamente à desnutrição infantil; subsídios para gás de cozinha; bolsas de estudo para jovens; e assim por diante. Tais efeitos que podiam ser cumulativos, foram anulados e considerados a partir do “concedente Bolsa Família”, e que precisou ser de fato mais concedente com o passar dos tempos, inclusive às vésperas da eleição de 2010, para “atender a toda espécie de necessidade que se apresentasse ao populismo”. Embora seja difícil provar, pois no Ministério não há interesse por análises nesse sentido, a evidência sugere que o Bolsa Família pode dar atualmente um valor social inferior (em termos de contrapartida também) à matriz anterior de benefícios propiciadas a muitas famílias, ou até mesmo atinente às reais necessidades pela simples especificidade de se distribuir “dinheiro”- crédito em conta corrente, onde sequer análise de onde e como se gasta é inquerida.  Há outra questão que é a diferença de custos dos produtos de primeiras necessidades variando de cidade a cidade; portanto, tal qual em programas na Ásia e África, a distribuição de tickets específicos para cestas determinadas por quantidade e produtos necessários para a família assistida (específicas por grupos) produzem muito melhor resultado do que a entrega de recursos em espécie.   

Segundo motivo, o programa parece ter tido pouco sucesso na redução do trabalho infantil nas cidades. Na verdade, seu registro sobre o trabalho infantil em geral, tem sido bastante decepcionante, mas o problema na área urbana parece mais difícil. Em zonas rurais, os pais levam as crianças para fora das escolas e a ajudar nos trabalhos agrícolas ou pastoris. Isto é em parte um fenômeno cultural, as crianças aprendem a agricultura e atividades pastoris trabalhando nos campos, e nem sempre são remuneradas por esse trabalho; podendo este até ser temporário a depender da época de colheitas ou plantio. Neste caso elas podem perder até 15% dos dias letivos sem penalização, de acordo com as regras adaptadas ao programa em 2003. Assim poderão trabalhar e permanecer no programa, ressaltando ser o trabalho infantil aceitável. Desta forma é contrário à legislação brasileira e normas internacionais de direitos infantis e humanos. Vale colocar, que a complementação de renda conforme os princípios básicos no Bolsa Estudo (1995/2003), era o de suprir a renda auferida pelo jovem à família, para que este pudesse estudar e não trabalhar até pelo menos os 16 anos de idade. Isto não tem acontecido segundo dados oficiais. Segundo dados do PNAD- IBGE, passamos a última década com taxas entre 8% e 10% de jovens entre 10 e 14 anos como mão de obra ocupada; o que se traduziu no mesmo período numa taxa média de analfabetismo absoluto, para a mesma faixa de idade, entre 3% a 4%. Estes dados e relação demostram a tragédia que é a permissividade do trabalho infantil e nos leva a predizer seus efeitos em longo prazo no tecido socioeconômico da nação.

O trabalho infantil nas cidades é diferente. Crianças recebem dinheiro vendendo bugigangas, trabalhando como empregadas domésticas e assim por diante, e seus rendimentos são muitas vezes maiores que os benefícios do Bolsa Família. Portanto, há um incentivo econômico para reduzir a escolaridade e deixar o programa. Isto tem ocorrido em todos os centros urbanos, mas com grande incidência na região nordeste que sequer registra a maioria dos empregados domésticos prejudicando absurdamente o Orçamento da Seguridade Social e o futuro previdenciários desses jovens. Trata-se de mais um ato chamado cultural e que o governo é extremamente concedente aos empregadores que burlam a legislação produzindo um notável índice de informalidade no país. Pior ainda que o Congresso aumentou a renúncia previdenciária como forma de atração à formalidade e sem análise adequada. A Argentina optou por essa política no passado e comprovou-se a a nulidade do incentivo apenas a arrecadação caiu.   
O subemprego infantil registrado nos grande centros urbanos e consequente afastamento da escolaridade é comum e visto sem nenhuma perplexidade pela população,, tal qual sem nenhuma restrição a família recebe a ajuda do Bolsa Família sem nenhuma contapartida socia,l até porque pelo paternalismo do programa não há interesse em fomentar controles.   (The Economist) 
 
Terceiro motivo, o Bolsa Família pode afetar a estrutura das famílias nas favelas (área urbana) mais do que no campo. O benefício recebido pela família vai para a cabeça (matriarca ou patriarca) de uma casa (quase sempre a mãe ou matriarca). Em favelas densamente povoadas, onde, por surpreendente que possa parecer, o custo da habitação é cara, e onde uma jovem, provavelmente fica com sua mãe e isto depois que ela tem o seu próprio filho, o novo benefício continua indo para o chefe da família, ou seja, (neste caso) a avó da nova criança. Para alguns observadores da UNESCO isto tem produzido um fenômeno nessas famílias de instrumentalização do programa para sanar o mal da gravidez precoce do que atender regras de educação e escolaridade às jovens mães e a seus filhos. Demostrando fragilidade nos programas de orientação sexual e controle da natalidade.

O IDH de 2011, e que não será objeto desta análise, demostra de forma sobeja o marasmo a que se submeteu a falta de planejamento e desenvolvimento na última década a nação brasileira na área educacional não só correlacionada a outras nações, mas ao próprio desenvolvimento da década anterior.
Capta-se facilmente imagens semelhantes em todas cidades, e de qualquer tamanho. até mesmo onde certamente o Bolsa familia é fartamente distribuido. O Motivo é bastante simples e comentado. Muitos ofícios tem seu registros pelo "salário mínimo", apesar dos trabalhadores chegarem ao trabalho até com carro próprio - cabeleiras, manicures, garçons, barbeiros, etc e assim podem facilmente se innscrever no bolsa família (The Economist)  

A renda bruta per capita evoluiu entre 2.000 de US$ 7.689 para US$ 10.162 em 2011 (crescimento de 32%); enquanto isso na educação, o tempo médio de estudo dos brasileiros, acima de 25 anos, passou de 5,6 anos em 2.000 para apenas 7,2 anos em 2011 (crescimento de 28.6%). Por sua vez, a expectativa de vida escolar caiu no mesmo período de 14,5 para 13,8 anos (redução de 5%), e há quem já analisou isto (expectativa) como sendo algo otimista (?). O cerne dessa questão é a desigualdade na distribuição na renda que contribui ativamente a tantas outras questões e que mais rebaixa o IDH “ajustado” (verdadeira e producente análise) . Portanto, de onde o MDS pôde alegar que o Bolsa Família propícia 44% de retorno ao PIB brasileiro, se este incremento ainda seria contundente sobre os assistidos; ou seja a camada mais pobre da população?

Todas essas observações não significam que o Bolsa Família é, em geral, um desperdício de recursos nas áreas urbanas, pois tem servido para aproximar as comunidades mais pobres (favelas) do Estado como um provedor de benefícios onde antes foi ausente ou apenas presente na forma da presença mais brutal da polícia. Isto já foi argumento do governo. Frisam-se tais observações feitas pela UNESCO, e outros observadores internacionais e que até subsidiaram o veto (OEA) de um programa tal qual o nosso, conforme sugerido por Lula ao Haiti; pois nessa condução (caso brasileiro) perde todo senso de contrapartidas e ascensão social dos atendidos, produzindo um alto risco de manejo da vontade política dos assistidos.
    
Tem havido uma tendência politiqueira a nevoar o entendimento da sociedade em tratar o Bolsa Família como uma solução mágica a todos os problemas da pobreza no Brasil. Faz-se do programa a imagem de que ele lida e resolve todos os problemas da pobreza. A “tradicional miséria” continua correlata à falta de educação e falta do Estado em serviços básicos como saúde e saneamento. Exemplo: - o governo investe apenas R$ 7,5 bilhões/ano em saneamento básico para atender o país inteiro, onde só 55% dos municípios coletam esgoto (não significa que todos tratam). O saneamento básico continua sendo a principal causa da mortalidade infantil no Brasil. Enquanto isso deixa de arrecadar em 2011 perto de R$ 116,1 bilhões isentando ou reduzindo tributos de empresas; instituições de grande porte ou setores a que estas pertençam. Em outra analogia, esse valor corresponde a quase o dobro do orçado para o Ministério da Educação no mesmo exercício - R$ 63,7 bilhões; ou a quase sete anos de Bolsa Família. Ou ainda a 150% do que será investido em Saúde no mesmo exercício.

A “nova pobreza”, na verdade continua com a velha, acumulando a miserabilização dos idosos com queda vertiginosa de suas rendas reais e a precarização do sistema de previdência e de saúde pública; da contínua falta de serviços básicos desde água tratada até serviços de transporte e moradia; infraestrutura que em nada ou pouco avançou nos últimos dez anos. O crescimento da violência; a dependência tóxica; a violência;  desagregação familiar e à degradação ambiental. Estes "novos" problemas são mais complexos e pouca ou nenhuma competência o Estado tem apresentado para solucioná-los em futuro próximo tal qual não tivemos por quase uma década que foi perdida na área Educacional apesar de muita publicidade feita e que mais atrapalha que ajuda.

Esse programa social apregoa publicamente resultados notáveis na retirada; frisa-se, “RETIRADA”... de milhões de famílias da condição de miséria. O termo da língua portuguesa, - “retirar da miséria”, não é a mesma coisa que “manter na mesma situação, ou seja, na contínua dependência de arrimo pelo Estado”; pois, se 72% deles trabalham, como coloca o MDS, mesmo que em ocupações precárias e de baixa remuneração, é exatamente sobre isto que o poder público deve inferir. Dar-lhes condições de ascensão educacional para melhoria profissional, e quebrar o ciclo de geração de miséria, onde “pais assistidos geram filhos a serem assistidos”. Trata-se da sucessão da miserabilização que até cresce neste grupo por ser característico a taxas mais acentuadas de natalidade em comparação à média nacional. Estudos da UNESCO dão conta que um filho de mãe analfabeta absoluta ou funcional, agrega ao futuro dele 23 vezes mais chances de tornar-se na vida adulta um analfabeto absoluto ou funcional do que um filho gerado por uma mãe plenamente alfabetizada.
Sendo a função de um programa social criar condições a dar auto-sustentabilidade aos atendidos, e não torná-los dependentes de um programa assistencial, o jaez politiqueiro deve sair desse contexto para que haja uma profícua análise sobre a performance e resultados do programa. O estado de miséria é dimensionado pela renda inferior a US$ 1,25/dia (índice IPH1 ONU) de um cidadão, ou membros de uma família. Estar pouco acima disso, nada significa ao padrão de vida dos indivíduos. No Brasil foi estipulado R$ 70,00/mês por indivíduo; o que vale dizer que o salário mínimo para uma família de quatro pessoas é o dobro dessa relação por dependente – R$ 136/cada. Vale dizer ainda US$ 1,38/dia, o que se caracteriza pelo índice IPH2 ONU estado de pobreza – menos de UIS$ 2,00/dia. O Índice de Pobreza Humana – IPH foi criado pela ONU em 1997, e utiliza em seu cálculo três dimensões básicas: (A) longevidade: representada pela percentagem de pessoas que morrem antes dos 40 anos; (B) conhecimento: representado pela percentagem de adultos analfabetos; (C) nível e qualidade de vida: representado pela percentagem de pessoas sem acesso a serviços de saúde, sem acesso a água potável e a incidência de crianças subnutridas.

A partir de outubro de 2003, os programas então existentes, com a mesma finalidade e condicionantes foram reunidos no então criado Bolsa Família. O “Bolsa estudo/escola” tinha os mesmos objetivos e regras para elegibilidade que o atual tem, pautando-se apenas pelas condicionantes vinculadas à frequência escolar (redução do absenteísmo). Portanto, analisemos apenas sobre estas (frequência escolar) os progressos possíveis que a nação auferiu. Os demais parâmetros relativos às condicionantes de saúde (exame pré-natal, e vacinação de crianças), no governo anterior estavam em outros programas.

Em 2011 o programa Bolsa-Família , ou em outra denominação inicial no governo FHC completou dez anos de existência no âmbito federal. O número de famílias atendidas, passou de 5 milhões para 12,5 milhões, aproximadamente e hoje, as primeiras crianças assistidas no começo da década estão com a idade entre 17 e 24 anos. É exatamente essa faixa etária que mais empobreceu, em completo contrassenso aos paradigmas do programa; ou seja- dar educação e condições econômicas para saírem da miséria, e não repetirem o circulo de miséria de pais e miseráveis e filhos miseráveis. Há de se notar ainda que entre o início e final da década em que estes se mantiveram em estado de miséria, como revela os dados oficiais, a economia brasileira apresentou expressivo progresso social e de evolução no mercado de empregos; Em recente estudo a Cepal - Comissão Econômica para América Latina e o Caribe (ONU) atribui a ascensão social ocorrida no Brasil muito mais por uma ação relativa à expansão do emprego e da renda do que a programas de transferência de renda, como o Bolsa Família. De acordo com a Cepal, entre 1990 e 2010 a taxa de pobreza de todos os países da América Latina se reduziu de 48,4% para 31,4%, mas o Brasil não figura entre os cinco com queda mais expressiva (Peru, Equador, Argentina, Uruguai e Colômbia). Enfim estes não tiveram programas decantados mundo afora e reduziram mais e de forma mais significativa a miséria do que no Brasil.

  Frequência escolar
No PNAD a taxa de frequência bruta escolar entre 1993 a 2002 evoluiu de 61,9% para 81,5%; ou seja, melhorou em +32%. Lembrando que esta posição é relativa (%), pois sofre a influência do crescimento demográfico que foi de 22,2 milhões de habitantes +14,7% (entre 1993/2002). Já no período de 2002 a 2009 a taxa bruta de frequência escolar evoluiu de 81,5% para 85,2%; ou seja, cresceu apenas 4,5%, e a população nesse período aumentou pouco menos de 9%. Resumindo: - em quase igual período que antecede a existência do programa sob o rótulo de “Bolsa Família” (2003), os indicadores de frequência escolar se portaram de forma mais positiva, e isto sem a aplicação do “incentivo” de forma plena, do que após a implantação do dito programa.

Nos jovens de 7 a 14 anos, a assiduidade escolar em 1993 era de 88,6%; em 2002 chegou a 96,9%; em 2009 alcançou 98,0%. Nos jovens de 15 a 17 anos (segundo grau), em 1993 a assiduidade era de 71,9%; em 2002 alcançou 81,5%; e em 2009 chegou a 85,2%. A diferença para 100% significa o abandono dos estudos; que representava em 2009 perto de 15%, mas há de se considerar os 2% que já tinham abandonado no primeiro grau = total 17%. Em 2002 - 3,1% abandonavam já no 1º grau; e no segundo grau mais 18,5% = total 21,6%, antes do Bolsa família. Mesmo tendo a sua disposição durante todo o governo Lula, em com dispêndio acumulado de pouco mais de R$ 83 bilhões, o “Bolsa Família” sequer reduziu de forma significativa a evasão escolar.

A troca da escola pelo trabalho, normalmente desqualificado e sub-remunerado para trazer alguns trocados para a família explica o fracasso do efeito Bolsa Família entre os adolescentes, em especial nas zonas urbanas. Foi o que fez dobrar para 661 mil os lares sustentados por jovens entre 15 e 19 anos. A deformação familiar, e a responsabilidade precoce e descabida em sustentar a família, acabam se tornando fonte de tensão e conflitos na rua e em casa. Pelo trabalho e necessidades inerentes a exposição a uma vida de abandono, desregrada, violenta nas ruas é por vezes a porta de entrada para o crime. Segundo a UNICEF, enquanto a taxa de homicídios nacional é de 20 em cada 100 mil habitantes, entre os adolescentes ela salta para 43,2 por cada 100 mil. Na média, 11 meninos e meninas entre 12 e 17 anos morrem assassinados todos os dias. Triste realidade de um país que em verdade possui até o ano de 2040 um bônus demográfico positivo; ou seja, mais mão de obra passível ao trabalho e prosperidade à nação. mais mão de obra ativa e menos idosos e crianças, como nunca em sua história).  


Colocam-se ainda pelos dados do PNAD do IBGE outros efeitos:

Os analfabetos “absolutos”, ainda continuam, e por incrível que pareça em pleno século XXI, a serem “produzidos” em nosso país. O governo em qualquer dos seus programas não consegue obstar esse infortúnio, e contínua alegando que os “analfabetos brasileiros, em sua imensa maioria, são parte da população mais velha”. Isto não explica a questão que nos defrontamos onde metade da população pode ser considerada analfabeta funcional[i]. No Brasil existem 18,5 milhões de pessoas analfabetas absolutas -, segundo o IBGE. Destes: (a) 42,6% com mais de 60 anos, o que representa 39% do grupo ou faixa etária ou ainda 7,9 milhões de pessoas; (b) 16,4% entre os pobres, representando três milhões de pessoas; (c) 52,2% entre os nordestinos, 9,7 milhões de pessoas, ou ainda 18,7% da população da região que possui nove estados brasileiros. Quase o dobro da média brasileira. Um em cada cinco brasileiros na região nordeste é analfabeto absoluto.

Tendo um nível médio (nacional) de absenteísmo escolar em 17% antes dos 18 anos, e no Nordeste e Norte até superior a 23%/25%, a depender das microrregiões, fica evidente que o jovem evasor de hoje será o futuro analfabeto adulto de amanhã.    Em 1991 o analfabetismo absoluto era de 20,1%, caiu para 13,6% em 2000 (0,6% a.a.). Em 2002 caiu para 11,6% e em 2010, ao fim do governo Lula atingiu 9,7% (0,2% a.a.). Em suma, “nunca antes na história deste país”, houve queda tão inexpressiva num período consecutivo de oito anos, mesmo que ponderadas todas as variáveis como a queda na taxa de crescimento demográfico.


O governo Lula criou em 2003, através do Ministério da Educação, o programa “Brasil Alfabetizado” específico para alfabetização em idade adulta. Em 2007, com Ministro Jorge Haddad, lança outro - o Programa Nacional do Livro Didático para a Alfabetização de Jovens e Adultos – (PNLA), que passa a adquirir material para esse fim específico. Tais programas já custaram à nação mais de R$ 2 bilhões nos governos petistas, estão as voltas com liberação de verbas a ONGs que sequer se enquadram nas especificações mínimas, e sobre elas já lançadas alto grau de suspeição e investigação pela Polícia Federal e Ministério Público.

É interessante observar que tiveram entre 2003 e 2010, cerca de 14 milhões de inscritos; contudo, o número de analfabetos esteve sempre na casa e superior a 14 milhões e em ascensão durante todo transcurso do governo Lula, até culminar em 18,6 milhões ao fim do seu governo em 2010. Assim, pode-se afirmar que o programa do MEC criou condições de atender um número equivalente ao de jovens e adultos analfabetos no país; porém estranhamente os dados da PNAD (IBGE) sugerem que a iniciativa não surtiu ou surte efeito algum. E não há explicações sobre isso. O MEC desconhece a eficácia do desempenho do programa “Brasil Alfabetizado” (que já consumiu mais de R$ 2 bilhões desde 2003). Somente em meados 2009 o Ministério instituiu um teste para aferir a aprendizagem ao final do curso. Como o programa é realizado em parceria com governos estaduais, prefeituras, ONGs etc.., cabe aos parceiros informar os resultados e andamento. Muitos deixam de fazer isso, retardam ou mandam de forma incompleta. Este programa nem mesmo faz parte da propaganda do governo e demostra o clamoroso fracasso na área da educação primordial ou básica e o descaso na apresentação das reais contas e contrapartidas à sociedade do que ela investe em programas sociais e de solução definitiva para redução da miséria no país.

A erradicação do analfabetismo sequer consta do plano plurianual Brasil Maior, apresentado como uma das linhas mestras do Governo Rousseff durante as eleições. Porém consta do seu programa de Governo - no 7º artigo:- “Garantir educação para a igualdade” – “Uma ampla mobilização – envolvendo poderes públicos e sociedade civil – terá como objetivo a erradicação do analfabetismo”. Recentemente o ministro Haddad (Educação) disse desconhecer esse objetivo. A redução o resultado auferido é incipiente a tudo que se investiu na ruptura do ciclo de analfabetismo e da miséria, em especial nas regiões norte e nordeste. Será muito difícil ao Brasil cumprir a meta de 6,7% para 2015 com a qual se comprometeu com a UNESCO nas Metas do Milênio. Haddad já declarou que provavelmente apenas em 2020.

O analfabetismo funcional atinge outros 20,3% da população, segundo IBGE-que considera neste grupo apenas cidadãos que não tenham completado os primeiros quatro anos de ensino básico. Segundo outros sensos e pesquisas mais precisas em suas análises (vide nota final), nos dão conta que mais da metade da população está nesse nível, fruto da cada vez mais desqualificada “educação pública”.


Lula, ao sair de seu governo (31/12/2010) conclamava que retirará 23 milhões de pessoas da miséria. No dia seguinte, a Presidente Rousseff, em tom mais racional e apoiada por dados oficiais, disse no discurso de sua posse que temos ainda 14 milhões de brasileiros nessas condições. Há algo de errado nessa questão e que só a aritmética do ministro Haddad, “onde onze menas cinco é três”, poderia explicar a tese de Lula; pois se retirou 23 milhões e ainda restaram 14 milhões, significa que produziu mais miseráveis do que assumiu o Poder. Jamais houve indicação em qualquer PNAD; ou estatística oficial, de que Lula ao assumir herdou 15% da população do Brasil com renda inferior a US$ 1,25/dia (índice IPH1 ONU-miseráveis). Os números atuais e o censo de atendidos (14 milhões) estão dentro dos dados oficiais; porém os exageros dos populistas que ora diziam 23 milhões retirados da miséria; e até esbarravam em outros discursos de Lula, que em palanques dizia 27, e em outras ocasiões até 30 milhões ascendidos socialmente. O propagandear do aberrante faz parte do populismo e das falácias de ditadores; porém crer nisto faz parte da exiguidade moral, de caráter e da abstinência cultural daqueles que aceitam sem vacilar crer sem ao mínimo raciocinar sobre a questão.

Nossos gestores públicos, em todas as esferas de poderes, segundo estimativas de órgãos governamentais apaníguam 130.000 elementos contra 170 da Alemanha nos chamados cargos de confiança, e ainda não se aperceberam que a informática e a web mudaram e continuam mudando o mundo. Nesse cenário, não só os países grandes passam a ter importância no cenário mundial, mas em maior escala os inteligentes. Chegamos aos sete bilhões de habitantes, 20% deles estão na China e 18% na Índia; o que corresponde a mais de 1/3 da população mundial. Se tomarmos toda população brasileira - 192 milhões de habitantes, chegaremos a 16% da população indiana e que corresponde a menos do que eles possuem de indivíduos plenamente graduados em curso superior ou em nível acima; para fazer a mesma comparação com a China precisaríamos de apenas 14% de sua população. Em suma, há muito mais pessoas formadas em curso superior ou além deste nível na China ou na Índia do que há de habitantes no Brasil; pode-se imaginar o que eles possuem em mão de obra técnica que tanto nos faz falta aqui pelo contínuo apagão educacional. Estima-se que entre seis a oito anos a China terá a população que mais fala e escreve inglês no mundo; para isso estudam desde tenros anos da infância para este seu segundo idioma. Aqui no Brasil, segundo dados oficiais, apenas 18,4% das crianças até três anos tem acesso à creche, e 25% das de quatro a cinco anos estão fora da educação infantil, e ainda temos que conviver com vagabundos fazendo badernas nas universidades públicas.

Dez profissões consideradas indispensáveis em 2010 por um estudo da Universidade de New York, sequer existiam em 2003; ou seja, hoje eles estão preparando os jovens estudantes para ofícios que ainda não existem. A estes jovens caberá o autodesenvolvimento em seus novos ofícios, e provavelmente usarão tecnologia e conhecimento que ainda não conhecemos em especificidade e profundidade. Terão que quebrar paradigmas, solucionar problemas que desconhecemos ou que enfrentamos hoje sem solução; talvez curas de doenças tidas hoje como incuráveis. Aqui, na filosofia tupiniquim e competência da gestão pública, o Ministro da Educação teve a terceira reprovação consecutiva no ENEM!
Pouco mais de cem milhões de perguntas são formuladas por dia ao Google; - três bilhões por mês, - a quem perguntávamos antes? Trata-se da evolução exponencial da raça humana, onde três mil livros são editados por dia, contribuindo para que a geração de informação em um único ano, desta década, seja maior do que a acumulada nos últimos cinco mil anos. Na idade média, um cidadão extremamente culto conseguia armazenar para si um conhecimento equivalente a uma edição de jornal dos nossos dias. A circulação mundial, de jornais é de 519 milhões de exemplares/dia em 2010 e está sendo substituída ferozmente pela leitura digital. O país onde se lê mais jornal é a Islândia, onde 96% dos habitantes têm o hábito diário de ler algum periódico. Em segundo lugar veem Japão, com 92%, seguido de Noruega, Suíça e Suécia (82%), Finlândia e Hong-Kong (80%). Na Europa e América do Norte este hábito nunca é inferior a 64% ao dia ou 88% na semana. A vizinha Argentina atinge essas marcas. Os vinte maiores jornais brasileiros mal atingem quatro milhões de edições diárias. Possuímos 2,75% da população mundial e editamos 0,75% do meio de informação mais comum que existe no planeta. 
 
A quantidade de informação técnica dobra a cada dois anos, em um raciocínio simples, um estudante no terceiro ano de uma faculdade precisa rever o que aprendeu no primeiro a cada dois anos. O mundo encara o aprendizado como atividade constante ao aprimoramento; aqui no Brasil se concebe que 51% dos jovens de 15 a 17 anos estejam no máximo ainda cursando o ensino médio; quase 18% abandonam a escola antes de chegar aos 18 anos de idade, o que resulta em mais de 50% ou 60% da população seja analfabeta funcional. Fica fácil saber por que nem lêem jornais e predizer o reflexo disto na baixa produtividade econômica pelo apagão educacional. No Brasil, nos últimos oito anos, apesar de tanto estardalhaço com o Bolsa Família e da farra das ONGs no Programa Brasil Alfabetizado, sequer reduziu-se em dois por cento o número de analfabetos, e que provavelmente o que diminuiu decorreu por causa mortis sendo que o mesmo resultado foi pífio na redução do abandono escolar.
O custo de transmissão de dados é cada vez mais baixo e tende a zero o que vale dizer que o papel eletrônico estará em breve mais barato que o papel real; assim caminharemos muito rápido para a educação através de e-books, e-apostilas nos tablets (Ipads); aliás, produto que veio para revolucionar o revolucionário mundo da informática na forma de trabalhar e educar, e quando aqui chegou, ao receber a classificação fiscal e tributária, a mediocridade e a incompetência endêmica do setor público brasileiro alegou que não podia classificá-lo como computador, pois não possuía teclado!    
     
Oswaldo Colombo Filho
           Economista
         08/dezembro/2011 

[i]Analfabeto funcional é a denominação dada à pessoa que, mesmo com a capacidade de decodificar minimamente as letras, geralmente frases, sentenças, textos curtos e os números, não desenvolve a habilidade de interpretação de textos e de fazer as operações matemáticas. Também é definido como analfabeto funcional o individuo maior de quinze anos e que possui escolaridade inferior a quatro anos, embora essa definição não seja muito precisa, já que existem analfabetos funcionais com nível superior de escolaridade. A UNESCO define como toda pessoa que sabe escrever seu próprio nome, assim como lê e escreve frases simples, efetua cálculos básicos, porém é incapaz de interpretar o que lê e de usar a leitura e a escrita em atividades cotidianas, impossibilitando seu desenvolvimento pessoal e profissional. Ou seja, o analfabeto funcional não consegue extrair o sentido das palavras, colocar ideias no papel por meio da escrita, nem fazer operações matemáticas mais elaboradas, nesta consideração é que vários institutos no Brasil qualificam que na média entre 55% a 65% da população é analfabeta funcional; o que tem se transformado num fardo ao desenvolvimento à competitividade das empresas brasileiras.
Legendas
IBGE – Instituto Brasileiro de geografia e Estatísticas (Órgão governamental)
PNAD – Pesquisa Nacional de Amostras por Domicilio
ONG – Organização não governamental

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

A expectativa de vida dos brasileiros

Com a divulgação da expectativa de vida dos brasileiros, ainda significativamente aquém dos países desenvolvidos, nota-se o quão gritante é o efeito do fator previdenciário no Brasil. Ele foi implementado como um instrumento que desestimularia a precocidade ao requerimento da aposentadoria dos trabalhadores da iniciativa privada. O seu efeito se anula; ou seja, deixa de vilipendiar o valor inicial dos benefícios do “novo aposentado” no interstício de tempo que se coadune com a relação em que somando o tempo de contribuição e idade de um homem, chega-se praticamente ao numeral cem. Em outras palavras, isto ocorre no intervalo entre alguém que complete 40 anos de contribuição e atinja 60 anos de idade, até quem atingir pouco mais de 64 anos de idade com 35 anos de contribuição. Dirão os pseudosexperts em Previdência no Brasil: - “Tal qual na Europa!” Mentira. - Lá, assim como em quase toda OCDE, com 40 anos de contribuição, e independente da idade do cidadão, a aposentadoria é concedida integralmente. Os limites, quando adotados por lá, a idade mínima raramente passa dos 62 anos, e isto para integralidade dos direitos, sendo que na maioria dos países, fixa-se o parâmetro de 35 a 36 anos de contribuição. Grande parte dos países convive com a fórmula 95, e estão ajustando-se também à sua aplicação às mulheres, que de fato possuem expectativa de vida maior. Porém os “estrategistas” brasileiros, na ânsia de reformarem nada construíram, procuraram delinquir sem medir a quem. Sequer atuaram sobre as pensões, e criaram carências para benefícios como qualquer regime do mundo possui. Para o segurado, em Regimes com o fator 95, - uma opção à fixação da idade mínima versa pela soma da idade com tempo de contribuição e deve resultar no numeral 95 (e até 96 em alguns países está sendo discutida) permitindo a aposentadoria com qualquer idade, e de forma plena ao valor do benefício. No Brasil tanto aos homens como às mulheres resulta entre o fator 99 e 100, pela fórmula a que se chega com o nosso fator previdenciário. Assim, as mulheres para eliminarem a incidência do fator previdenciário deverão situar-se num interstício de tempo entre 36 anos de contribuição e 63 anos de idade a 30 anos de contribuição e 68 anos de idade.
A magnânima diferença ou dosagem exagerada aplicada por essa política insólita e vergonhosa de FHC e mantida por Lula, - nominada de “fator Previdenciário”, está em que nos países que fixam a idade mínima em 60 a 62 anos como na Europa, e que tem servido de suporte aos defensores do fator, aqui no Brasil, é que a expectativa de vida, por lá supera os oitenta anos, e a nossa expectativa de vida (média) é de 69,7 anos aos homens e às mulheres é de 77, 3 anos, o que modifica completamente toda a história.     Tudo isso além de terem assistência médica odontológica, considerada de alto nível, praticamente gratuita até mesmo no fornecimento de medicamentos. Em suma existe Seguridade Social por lá. Aqui apesar de Lula dizer que o SUS “está perto da perfeição”, ele sequer foi para lá tratar o seu problema de saúde, como milhões de brasileiros são obrigados a fazer. Tripudiou mais uma vez o povo tolo, que lamentavelmente leva essa e tantas outras sem protestar. Na verdade a opção de Lula é uma contrapropaganda ao que o governo ora faz nas rádios, dando magnificência ao SUS, - por acaso, doravante todos os políticos e seus familiares irão se tratar no SUS? Ficarão nas filas?
      Oswaldo Colombo Filho
Estado de S.Paulo 05/12/2011 

Ópera bufa

Cenário: Fórum da Barra Funda; aquele consagrado pela fama e obra do Juiz Lalau, que mesmo aposentado das funções de Presidente do TRT paulista e ex-juiz do Trabalho ainda, e “voluntariamente”, presidia a Comissão de Obras daquilo que hoje é o Taj Mahal do Judiciário brasileiro. Aposentado, e sem função oficial alguma, mas todos aceitavam o que ele fazia por lá.

Atores: Mais de uma centena de Juízes do Trabalho, ex-colegas de cátedra e toga de Lalau, cuja remuneração mínima é de quase R$ 22 mil reais/mês, podendo chegar a R$ 30 mil; ou seja, recebendo no mínimo 14 vezes a média do que os trabalhadores e os aposentados por tempo de contribuição do INSS; porém com a vantagem de terem, no mínimo 60 dias de férias a cada período de um ano; excelente assistência médica, além do melhor plano de aposentadoria do mundo, sem contar a impossibilidade de demissão de seus postos de trabalho. Tudo isso e ainda, vez por outra recebem convites e gozam de fins de semana privilegiados, com tudo pago, a convite de quem quer que seja, para fóruns e seminários em resorts, como muito se tem noticiado e demostrado que a toga está serviço do clientelismo no Brasil.

Enredo: Greve de 24 horas por melhores salários.

Moral da história: Quem pede justiça deveria praticá-la. Temos um Poder Judiciário independente? - Onde estão os que julgariam os mensaleiros? E o ficha limpa? Mais uma vez travado pelo mesmo “tardinheiro”, ex-assessor de José Dirceu ao tempo do mensalão ministro Toffoli, que com a mesma prática retém por uma ano o   processo relativo ao golpe dos Bancos nos expurgos das cadernetas de poupanças nos Governos Collor e Sarney?  E aquilo que se afronta aos direitos dos aposentados, através do dono da Câmara dos deputados – Marco Maia que determina o que se aprecia e quando aprecia, e ainda açoita a inteligência de outrem ao falar em período ditatorial?  Os crimes por corrupção e colarinho branco, quando serão julgados?

A Justiça no Brasil faz dele a diferença para com outras nações, não pela criminalidade e corrupção, mas sim pela impunidade e pelo povo indolente que tanto se orgulha do pão e circo.

       Oswaldo Colombo Filho
O Estado de S.Paulo 04/12/2011

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O escárnio dos imorais

Dentre a corja resultante daquilo que restou do mensalão, e que não são poucos, ou daqueles que dizem que ele não existiu e até mesmo dos que não querem vê-lo julgado e até retardando-o, José Dirceu exerce enorme êxtase. Sabe-se lá se não quer chegar ao lugar de Lula, o expoente máximo da camarilha. Seu cinismo criticando a luta moralista contra a corrupção demostra que este país está sem eira nem beira em termos de oposição, justiça e percepção da moral. A figura da elite golpista, na sua patética teoria da conspiração, que age contra a “democracia do seu partido”, e que não passa de uma facção, apenas pode ser aceita pelas mentes idiotizadas daqueles que participavam do Congresso petista trajando camisetas “Contra o golpe das elites”; porém deveriam subscrever “a favor da corrupção desde que seja gerenciada pelo PT”. A elite que hoje existe nunca mereceu tanta atenção do BNDES, da classe política como um todo, e sem exceção de partidos, são todos imprestáveis sob os olhos da ética – esta é a percepção da sociedade consciente e que se manifesta a despeito das críticas de crápulas. Estes fundaram um Estado a serviço do clientelismo como nunca se viu. Um governo que loteou todos os Ministérios partidarizando a corrupção que substituiu a política no Brasil, e tudo isso foi obra raciocinada na “concepção do mensalão”; na aliança do PT de Lula e Dirceu, com o PL de Alencar e Valdemar da Costa Neto. Um plano de assalto ao Poder.

Seus discursos e artigos, e sabe-se lá escrito a quantas e tantas mãos, se proliferam em jornais buscando ofuscar opiniões de articulistas e leitores, e demostram a visão torpe e como a idiotia toma conta de grande parte da sociedade que não se ergue para obstar esse contrassenso. A omissão sim é o grande e vergonhoso problema desta nação. Não só Dirceu, mas alguns outros seguidores espalham meticulosamente em um apanágio de mentiras e de ilações delirantes que apenas pode convencer a idiotas. Dirceu defende o Estado clientelista desde que seu partido esteja na cúpula diretiva, daí o necessário populismo, distribuição de bolsas e compra de consciências. Nesse Estado, o Sr. José Ribamar Ferreira de Araújo Costa, conhecido pela alcunha de Sarney, é o maior representante e onde o Sr. Luís Inácio da Silva, conhecido pela alcunha de Lula, dirigiu e dividiu a pilhagem entre selecionado número de beneficiários para a conquista do Poder; é este tão somente este Estado e forma de gestão que Dirceu defende em seu discurso imoral e de claro desdém a uma sociedade que se acovarda e entrega sua consciência aos desígnios de marginais. Nefasto silêncio de quem na política se elegeu como opositor, aliás, tanto melhor que se calem, pois quando falam causam nojo tal qual Dirceu. A atual geração de políticos e homens públicos brasileiros jamais foi tão indigna dos cargos que ocupam. Se neste país houvesse a mais pálida sombra de Justiça, certamente haveríamos de ter a consideração e consequente punição cabível a muitos políticos, cuja ficha criminal é mais densa do que a de muitos meliantes encarcerados. 
    
       Oswaldo Colombo Filho
O Estado de S.Paulo 27/11/2011

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A Economia sinistra

Sob o título “Pobreza versus pobreza extrema” (Estado de S.Paulo - 21/11), o economista Fabio Giambiagi do BNDES, traça a perfeita apologia decisória que o Poder Público é guindado em suas decisões. Coloca seu pensamento sobre a necessária escolha de prioridades pela gestão pública, dada à capacidade finita de recursos tomados da sociedade a título de carga tributária. Afinal, em que investir, quanto, onde e quando. Giambiagi cita que a economia é chamada de “ciência sinistra da escassez” – essa é a economia dele, talvez em sua visão de maior personagem na questão. As Ciências Econômicas, de muitos outros, versa pela busca da prosperidade de uma nação. Não há nada de sinistro nisso. Talvez seja na tese do economista do BNDES por ser contra os aumentos reais ao salário mínimo, alegando que o governo deveria poupar estes recursos para reduzir a pobreza extrema do país; ou seja, pessoas que sequer tem a renda de um salário mínimo.

Pelo cheiro da brilhantina se conhece a gafieira” - dizia o bom malandro, e Giambiagi nada mais quer do que atacar o RGPS. Já é um velho conhecido e representante do clientelismo rentista que ganha muito com a precarização da Seguridade Social (Saúde e Previdência).

Contudo tem razão sobre a definição de prioridades, mas não a que “sinistramente coloca”: - tirar de quem tem pouco para dar a quem tem menos. No Brasil isso nem é cabível. Há o que tirar de um Estado perdulário em sua gestão incompetente, dando privilégios bisonhos a quem é cliente do Poder. O próprio BNDES, onde atua Giambiagi, é um instrumento que funciona subsidiado pelo Tesouro (o povo), enriquecendo alguns empresários nacionais, financiadores de campanhas políticas ; e até fazendo obras em países vizinhos, como a Transcocaleira na Bolívia. No Brasil, produzimos combustível (álcool) e exportamos com subsídios – são as renúncias previdenciárias que entram a débito da Seguridade Social e que de qualquer parte do mundo, o nosso é o maior Regime Orçamentário capaz de distribuição de renda e limitação da pobreza. Antes disso, por que não produzir mais alimentos aos miseráveis?

 Também poderia aludir: - fazer a Copa do Mundo de futebol ou ter a disposição o que se investe em 13 anos no saneamento básico no Brasil? Fazer as Olimpíadas ou urbanizar as favelas cariocas?  Não foi o Governo Lula que decidiu isso, e todo povo irá pagar por muito tempo? E agora, surge nas colunas do Estadão, em mais uma investida do “cavaleiro do apocalipse” (e sinistro), querendo que os que os 80% da população; pobres e classe média, trabalhadores e aposentados da sociedade civil que devem arcar de alguma forma na distribuição de renda para acabar com a miséria. Lembrando que são estes que proporcionalmente são os mais escorchados pelo fisco.

Talvez não tenha ocorrido ao sinistro economista, que tão apenas os 10% mais ricos do país possuem 44% da riqueza nacional. Nem mesmo e quando sempre fala de Previdência, lembra que tão apenas 980.000 ex-servidores públicos darão este ano R$ 52 bilhões de déficit ao Tesouro; ou seja, colocam na conta do povo; para que uma minoria (0,5% da população) viva num privilégio indecente e que já é um escárnio aos outros 27 milhões de atendidos pelo RGPS. Mais do que isso, trata-se de 2/3 do Orçamento da Saúde Pública para os outros 99,5% da população brasileira. Tudo isso sem contar com as mirabolantes estimativas que a corrupção rouba e mata nesse país.

Certamente o jornal O Estado de S.Paulo encontrará melhores análises e colunistas do que alguns como o supracitado, e que acha que estamos no país das maravilhas, todos apadrinhados pelo beneplácito do BNDES, da politicalha e continuamente dispostos a deles ouvir a mesma cantilena apocalíptica da falta de recursos e não da incompetência de um Estado gerido para atender ao clientelismo travestido de uma já comprovada e promíscua lógica libertina dita neoliberal, e que não passa da ampliação de proposições em benesses a cidadãos (corporativismo), e a setores empresariais (clientelismo) da "sociedade de privilégios" que assalta e domina o Poder Público neste país.
       

   Oswaldo Colombo Filho
O Estado de S.Paulo 23/11/2011

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A riqueza das nações

      A riqueza de uma nação se mede pela riqueza do povo, e não pela riqueza dos príncipes”.
Adam Smith 


Segundo estudos do Credit Suisse, a riqueza dos cidadãos brasileiros soma US$ 5 trilhões, o que corresponde à dos norte- americanos em 1925, isto a 86 anos atrás. Estima ainda a instituição que dentro de cinco anos a riqueza dos brasileiros poderá chegar US$ 9,2 trilhões, tal qual tinham os americanos em 1948. Ledo engano traçar qualquer analogia de que em cinco anos os brasileiros acumularão riqueza igual a que os americanos acumularam em 23 anos. Antes de tudo há de suprir tal raciocínio pela paridade da moeda, - quanto o dólar “comprava” naquela época e quanto compra hoje em termos de uma mesma cesta básica de produtos (Paridade do Poder de Compra ou Purchasing Power Parity ao longo do tempo). Em instância bem mais simples ao raciocínio, nesses 23 anos em questão a economia americana passou por um crítico período de seis/sete anos - a crise de 1929 – que foi a pior recessão econômica que houve na história, e que indubitavelmente atingiu muito mais a eles do que ao Brasil que sequer era industrializado. Enfrentaram ainda a 2ª Grande Mundial, lutando em duas frentes – na Europa e no Pacífico. Mais sábio seria afirmar que a riqueza dos brasileiros corresponde hoje a menos de 5% da que os norte americanos possuem, que é de US$ 58 trilhões; e a expectativa é de que esse valor chegue a US$ 82 trilhões daqui a cinco anos. Assim, em 2016, a fortuna do país Olímpico, segundo estimativas do crescimento acumulado de ambas as nações estará em 11,2% da equivalente à americana.

Mas o que isso quer dizer de tão grandioso? Certamente para as instituições financeiras isso tem relevância, pois atuam sobre a massa expressa pela moeda circulante ou depositada sob a forma de patrimônio, poupança e renda.

A renda no Brasil, expressa pelo incremento do PIB cresce, mas 62 % dela está concentrada nas mãos dos 20% mais ricos cidadãos do país (cerca de 35 milhões de brasileiros). No USA e Europa não chega a ser metade dessa proporção. Disse Adam Smith que:- “a riqueza de uma nação se mede pela riqueza do povo, e não de seus príncipes”; mal sabia ele que viria muito tempo depois o Credit Suisse para dizer muito e não explicar nada em termos da verdade que ele propalava duzentos e cinquenta anos atrás.

A riqueza medida conscientemente se faz pela:- () renda per capita; () pela distribuição de renda, (índice Gini/curva Lorenz), () e do IDH (índice de desenvolvimento humano). A renda per capita versa pela divisão do PIB com o número de habitantes estimado num país ao fim de determinado exercício temporal. Sua efetiva comparação a outras economias depende em justapô-lo à paridade internacional do dólar, porém em critério que se contemple a valorização real dessa moeda (Purchasing Power Parity -PPP). Senão vejamos – o dólar de 1980 não vale tanto quanto o dólar de 1990 mesmo nos Estados Unidos; portanto, esse critério convencionado por entidades de estudos macroeconômicos internacionais é pouco aludido no Brasil, mas serve para exata comparação de indicadores macroeconômicos entre países ou numa mesma economia ao longo do tempo mantendo-se a paridade por uma moeda a valor constante em termos globais (US$).

Porém a renda per capita é apenas uma média genérica, e a enriquecer a fundamentação agrega-se à análise o coeficiente Gini que mede a dispersão ou desigualdade da renda de uma nação. Versa por um número que varia entre zero e um, onde zero corresponde à completa igualdade de renda, e um; ou em se aproximando deste, indica a desigualdade; quão mais próximo de “um” mais desigual é a distribuição. Em muitos casos é expresso em percentual, alterando a relação de zero a 100%. Completando a análise há de se considerar o IDH.

Todos os anos, a ONU (Organização das Nações Unidas), publica o Relatório do Desenvolvimento Humano, nele consta o índice de desenvolvimento humano (IDH), que consiste em uma análise ponderada além-riqueza do PIB ou renda. Trata-se de uma visão mais ampla e voltada ao estado de bem-estar de uma nação. O IDH apresenta uma medida composta de três visões próprias no desenvolvimento socioeconômico: (a) expectativa de vida e saúde; (b) educação através da alfabetização e nível de escolarização da população (c) o padrão de vida em capacidade atuante da renda medido através do efetivo poder de compra da população (PPP), na qual a renda é medida diante da cesta básica de produtos dignos a sobrevivência de uma família. Fornece assim um indicador do progresso e bem estar humano e da complexa relação entre renda e bem-estar de uma nação, assim como traça em sua evolução um paralelo do desenvolvimento de ambas. Exatamente por isso é que se há de considerar as performances ao longo do tempo. Entre 1980 e 2010 o IDH do Brasil subiu 0,87% anualmente, menos que a média mundial em razão da chamada década perdida (anos 80); além do país de ter sido um mero coadjuvante no cenário econômico internacional no período 2002 a 2007 que foi o quinquênio de maior crescimento econômico global após os anos que sucederam a 2ª Guerra mundial, fruto da adoção de uma política externa própria de republiqueta de terceiro mundo, além de nenhuma política industrial e desenvolvimentista. Resultado derradeiro, recentemente, de 2000 a 2011, o crescimento médio anual do IDH ficou em 0,69% ao ano, menos que a média mundial O quinquênio supracitado foi de vital importância à alteração socioeconômica das nações em desenvolvimento ora atuantes no cenário global; portanto quadro este reportado ao quadro do IDH. Frisam-se grandes diferenças na última década: - a Índia teve taxas médias de crescimento anuais do seu IDH entre 1,38% e 1,56%, e a China, de entre 1,43% e 1,73% ao ano, notáveis avanços em termos de prosperidade foram legados em paralelo ao crescimento econômico nestas nações aqui apenas citadas como exemplo. Esta relação é o que reclama respostas, e que devem ser expressos por efetivos resultados ou contrapartidas mensuráveis e não discursivas com soluções tempestivas e provisórias para problemas da miséria sem efetiva erradicação da mesma.

De acordo com o ranking anual de IDH em 2011, o Brasil, obteve 0,718; ou seja, abaixo da média da América Latina, que foi de 0,731. A média brasileira, no entanto, ainda é superior à mundial, que alcançou 0,682, evidentemente rebaixada pelos países extremamente pobres. O Chile é o país latino-americano em melhor colocação no quadro mundial - 44º lugar com índice 0,805 seguido pela Argentina 45º, com índice 0,797. Na América Latina, o Brasil é o 14º colocado, e em 2010 era o 8º e no mundo o 84º, entre o Equador e São Vicente e Granadinas. O IDH mais alto é da Noruega- 0,943 (1º), e o mais baixo (187º) do Congo -0,286.

A análise sobre o IDH é bem mais extensa e propensa a demostrar o contrário do discurso político; pois há uma altíssima concentração e empobrecimento de classes que não haviam no passado e hoje é pouco revelada; exemplo:- os idosos, pela precarização do Orçamento da Seguridade Social (Previdência e Saúde Pública), na verdade o governo não tem política para o enfrentamento do aumento da expectativa de vida, ao contrário, tem deteriorado a fonte básica de sustento pecuniário dos cidadãos com mais de 60 anos. Nos últimos 15 anos essa categoria da população cresceu 16% e é a mais afetada pela saga de retirada de recursos do OSS que sob as vestes de reforma previdenciária (que sequer alterou pensões por morte); ou por subtração de renda por mecanismos justificados como necessários à mobilidade fiscal do Executivo, - rotulado de Desvinculação de Receitas da União (DRU), como se receita previdenciária fosse receita da união - e não fundo dos segurados pós-vida laboral recolhidos por especificidade arrecadatória sobre os rendimento do trabalho tanto pelo empregado como pelo empregador. 
      
No Brasil a concentração de renda é tão intensa que o índice P90/P10 (o quanto que os 10% mais ricos recebem em relação aos 10% mais pobres) é de quase 40; ou seja, para cada unidade monetária que os 10% mais pobres recebem, os 10% mais ricos recebem 39,7. Não é por outra razão que o Brasil ocupa a 74ª posição, ponderada no IDH – “desigualdade na distribuição de renda”, num contexto de 133 países, ficando apenas a frente de países como a Guatemala, Sudão, Arábia Saudita, Suazilândia, República Centro-Africana, Congo, Serra Leoa, Botsuana, Lesoto e Namíbia etc.. O índice GINI no Brasil é de 0,526. No Brasil, 10% da população mais rica concentra 44,5% da renda nacional e os 10% mais pobres apenas 1,1%. O censo de 2010,revela que metade da população brasileira recebia naquele ano R$ 375,00/mês, o que corresponde a metade do salário mínimo oficial que era de R$ 510,00. Esta metade mais pobre ficou com apenas 17,7% da renda total. O coeficiente Gini mede a desigualdade ou dispersão (entre os mais ricos e mais pobres). 

Ainda no contexto do IDH, e contrário ao discurso de grandes resultados e mostrando a incipiência da última década, em Educação, ora vivemos um apagão da pouca vergonha e da incompetência da gestão pública, estamos em 93º na avaliação do PNUD a frente de Belize e Gabão, e num contexto de 183 países. Tanto alarde do sucesso do governo, mas poucos atentam para à evolução do apagão educacional onde ainda temos 3,1% da população que abandona a escola antes dos 14 anos de idade e outros 16,7% antes de completar 18 anos; total certo de “fabricação” de analfabetismo absoluto e/ou funcional de 20% em futuro próximo onde educação será fator imprescindível a mão de obra. Exemplificando, a China e a Índia possuem, isoladamente, mais que o dobro da população brasileira, formadas em cursos superiores e/ou cursos técnicos de alto nível. Temos atualmente 9,7% da população considerada analfabeta absoluta. O Brasil reduziu 4% do analfabetismo na última década, durante o governo Lula (oito anos e com Bolsa Família) apenas 2,4%.  Argentina, Chile e Uruguai também reduziram aproximadamente 4% na mesma década, porém eles possuem menos de 2% de analfabetos absolutos, e praticamente todos em idade superior a 60 anos de idade.  
                     
A saúde pública pelo PNUD, decantada como “próxima da perfeição, e exemplo a ser seguido por Obama nos Estados Unidos”, como discursava Lula esta em 81º lugar numa lista de 173 países, onde aplicamos 3,5% do PIB, sendo que os 50 países que mais aplicam, o fazem acima de 5% de seus respectivos PIB’s; ou seja, numa relação de mais de 43% do que o governo brasileiro aplica. Gabam-se as autoridades e estrelas do populismo, além das figuras do já anedotário nacional que saem em defesa deste ou daquele ex-presidente de que somos a 7ª economia do mundo. - E o que isso representa fora do vazio discurso político? Enche estômagos, educa os jovens, salva vidas?

Em termos de renda PPP (base 2005), usada nos estudos da ONU, a nossa é a 74ª do planeta entre 188 países, própria de países considerados com desenvolvimento socioeconômico “médio”; ou subdesenvolvidos. Estamos entre o Irã e Belize. Provavelmente muitos pensam que com o advento da Copa do Mundo e das Olímpiadas, recebamos um legado que cubra a perda de uma ou duas décadas, e a se lamentar no futuro pelos governos descomprometidos com a competência em altos e médios cargos; além de políticas e comparações que olham para o umbigo, tão apenas para o Brasil de suas bolsas, sem comparação com outras nações e assim se assustam quando se deparam com comparações com o PNUD. Estamos correndo sozinhos e fadados a chegar em segundo lugar.

No Brasil as classes dirigentes, especialmente a política, não demostram sensibilidade à questão e se atem a parcos sucessos de programas notadamente politiqueiros sem contrapartida social à altura da necessidade que seja a auto-sustentabilidade socioeconômica do atendido, e não o assistencialismo - como o Bolsa Família que em oito anos de aplicação, R$ 87 bilhões gastos, e propagandeado ao extremo, reduziu apenas pouco mais de dois pontos percentuais no analfabetismo e sequer causou significativa mutação na taxa de escolarização dos cidadãos entre 15 e 18 anos. Assim vivemos o “apagão educacional” que alimenta o “apagão de produtividade” – a chave do sucesso no mundo globalizado. A classe gestora, e incompetente, que se apoderou dos cargos de confiança, não tem capacidade a ver e os graves prejuízos que a excessiva desigualdade na distribuição da renda nacional causa ao próprio desenvolvimento econômico do país, em longo prazo. Temos o RGPS que é o maior sistema distribuidor de renda do mundo que está sendo desvirtuado pela prática da banalíssima política neoliberal impondo a DRU, por exemplo. Penalizam os aposentados com reajustes aquém do concedido ao piso previdenciário, mas concede-se a excrecência de renúncias tributárias nomeadas de “previdenciárias” a débito de um fundo cujos recursos pertencem especificamente aos contribuintes do RGPS e não ao Tesouro. Distribuem assim seletivamente a renda; pois nunca ouviram falar no virtuoso “mercado da terceira idade” (aqui existem 8,4 milhões de prejudicados).

Alguns tentam colocar a questão em termos ideológicos ou partidários, mas a situação não se resume a essa politicalha, mas sim pela falta de competência e excesso de mediocridade dos gestores do Brasil há mais de uma década. Vivemos sob o mesmo céu e no mesmo país, mas poucos têm em visão o mesmo horizonte.

          Oswaldo Colombo Filho
O Estado de S.Paulo 31/10/2011