terça-feira, 27 de dezembro de 2011

O norte-americano, não dá ponto sem nó.

         
      Bastou ao Congresso norte-americano não revalidar a sobretaxação sobre o álcool importado do Brasil, em US$ 0,54/galão, para que os nossos sheiks do setor sucroalcooleiro festejassem. Não é para menos, trata-se do maior mercado do mundo para o álcool combustível sendo que o nosso produto, derivado da cana de açúcar, é bastante competitivo ao que lá é produzido ao mesmo fim. Tal mecanismo de proteção aos produtores norte americanos, foi implementado pelo então presidente Jimmy Carter há 30 anos. Segundo fontes locais, os produtores já estão mais aptos à concorrência, mas em essência o que ocorreu, o Brasil no transcurso desse tempo deixou de ser o maior produtor mundial; ou seja, dá menos peso à formação dos preços internacionais dessa commodittie. Em suma, tal liberação à importação ocorre, apesar da crise que assola a economia local, pois é mais vantajosa ao jogo e interesses norte-americanos. Senão vejamos, a quem isso trará mais vantagens do que ao próprio consumidor americano?


       Os veículos flex no Brasil podem e devem usar gasolina como combustível; até porque a miúde, a relação custo benefício não se dá na analogia de preços de 70% do preço do litro do álcool para cada litro da gasolina (como dizem), mas sim pouco acima de 60% posto que o etanol implica em maior efeito ao custo de manutenção. O álcool combustível, em sua produção incipiente não apresenta relação favorável de custos ao usuário como a gasolina, além de ocupar terras nobres como no interior do estado de São Paulo (qualidade do solo e proximidade com mercado consumidor) que deveriam ser priorizadas para produção de alimentos. Como? No mínimo não concedendo ali benesses de apoio do BNDES; e dali excluindo as renúncias fiscais dos produtos sucroalcooleiros que se destinassem à exportação. Socialmente e não só financeiramente  aos “senhores de engenho” o fator uso do solo seria mais adequado e apropriado à nação; tal qual se faz na Europa e na Ásia.


Como já colocado, mesmo assim já (antes da decisão norte-americana) exportamos etanol; o que por si eleva a pressão sobre o mercado interno na forma de falta de produto e, por conseguinte eleva os preços. Apesar dessa ambiguidade, exportamos concedendo até renúncias previdenciárias , para azar dos aposentados da iniciativa privada; pois o segmento sucroalcooleiro, além de receber grande atenção do BNDES no governo Lula, com empréstimos a taxas reais negativas, faz parte de uma elite de segmentos empresariais que receberá R$ 150 bilhões em isenções ou renúncias de receitas ao Fisco no ano de 2012.  


Importamos o etanol mais caro, e o que menos 
reduz as emissões dos gases que causam efeito 
estufa. E exportamos o melhor em todos os 
sentidos e produzido em terras potencialmente 

nobres ao sentido socioeconômico nacional.      
     
         A produção de cana de açúcar na safra 2011/2012 tem estimativa de queda de 10% e à produção de etanol estima-se a queda de 29%. Este cenário, isoladamente já apresentaria fonte de preocupação ao mercado interno de combustível. Na contramão desses números, a entidade que representa o setor (UNICA) estima que as exportações para os Estados Unidos subam do atual patamar de 1,5 bilhão de litros/ano para 13,5 bilhões litros/ano (10% do consumo norte americano) E o nosso sonho em obter um custo menor por km rodado com a magnificência tecnológica dos nossos motores flex? Sobrará algum etanol? Só o tempo dirá; porém o que já sabemos é que o governo petista quase nada fez em termos de refinarias de petróleo, fala em pré-sal e autossuficiência num discursionismo que apenas perde para incompetência que lhe assoberba a cântaros, em especial na área energética e no planejamento a médio e longo prazo. 

         Na prática os norte americanos, que nunca dão ponto sem nó, compram o nosso álcool para que deles compremos gasolina que não produzimos em nossas colunas de refino. Num cenário ainda de oferta restrita de etanol e elevados preços do produto, a Petrobras vai conviver em 2012 (e até 2014 pelo menos), com mais um ano de importações crescentes de gasolina a fim de suprir a frota de veículos flex (?) do país.

"ARÁBIA DOS BIOCOMBUSTÍVEIS
        De janeiro a novembro, deste ano o Brasil importou, em média, 45 mil barris diários de gasolina, 400% a mais do que a média diária de 2010. Há previsões de aumento de pelo menos 10% a 15% desse volume somente no 1º trimestre de 2012, para azara da balança comercial brasileira. Até o início de 2010 o Brasil era exportador de gasolina, e bastou o incompetente governo, e que não possui política econômica, e nem planejamento energético fazer uma lambança em torno do pré-sal, e não criar um mercado regulador do etanol para passarmos a ser um considerável importador mundial de gasolina; coisa que já havíamos deixado de fazer desde o início dos anos 70.  Aquilata-se o peso da falta de política e competência no governo pela análise da balança comercial da Petrobras (empresa pública), que até setembro último, apresentava um saldo negativo de US$ 3,4 bilhões, contra um superávit de US$ 102 milhões em relação ao mesmo período do ano anterior. Enfim, os que ganharão a curto e médio prazo; serão fatalmente os consumidores americanos e não os brasileiros, e provavelmente em longo prazo também serão os “senhores de engenho”, tal qual no tempo das capitanias hereditárias. O custo da utilização e qualidade do combustível, num país com péssima estrutura de transportes como o nosso, tem notável peso e dimensões significativas na vida do cidadão comum. Apenas para exemplificar, na relação de continuada elevação no custo do km/rodado, a cidade de São Paulo, em pleno horário do rush não possui nos táxis (ao contrário de outros grandes centros) um meio integrado ao sistema de transporte coletivo em razão do alto valor de suas tarifas; tão cara quanto Los Angeles e mais cara que NY, Buenos Aires, Madri, Lisboa etc.. Em relação ao nosso diesel, é o pior fabricado por um país que refina seu próprio combustível. Segundo dados da CETESB 97% da poluição atmosférica na Região da Grande SP é emanada de veículos automotores movidos por derivados de petróleo (exceção ao GNV), o que acarreta um custo fantástico à saúde pública. Se puxarmos pela memória, - não era pelo apelo de menos poluição, e pela autossuficiência que já pagamos pelos experimentos do fracassado Programa Proálcool e agora vimos o governo petista chamar o Brasil de “Arábia dos biocombustíveis? Mais um sonho das mil e uma noites que se esvai na notável perseverança da incompetência que trata a “arte de governar” na cisma de enganar do alto de palanques ou mesmo através de notícias de meias verdades, e que não são lidas em suas entrelinhas pela sociedade tal qual em essência deveria!

     Oswaldo Colombo Filho
O autor foi Diretor Executivo da Associação Brasileira de Gás Natural Veicular (ABgnv), e  membro do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP)  
O Estado de S.Paulo 27/12/2011

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