Bastou ao Congresso norte-americano não revalidar a sobretaxação sobre o álcool importado do Brasil, em US$ 0,54/galão, para que os nossos sheiks do setor sucroalcooleiro festejassem. Não é para menos, trata-se do maior mercado do mundo para o álcool combustível sendo que o nosso produto, derivado da cana de açúcar, é bastante competitivo ao que lá é produzido ao mesmo fim. Tal mecanismo de proteção aos produtores norte americanos, foi implementado pelo então presidente Jimmy Carter há 30 anos. Segundo fontes locais, os produtores já estão mais aptos à concorrência, mas em essência o que ocorreu, o Brasil no transcurso desse tempo deixou de ser o maior produtor mundial; ou seja, dá menos peso à formação dos preços internacionais dessa commodittie. Em suma, tal liberação à importação ocorre, apesar da crise que assola a economia local, pois é mais vantajosa ao jogo e interesses norte-americanos. Senão vejamos, a quem isso trará mais vantagens do que ao próprio consumidor americano?
Os veículos flex no Brasil podem e devem usar gasolina como combustível; até porque a miúde, a relação custo benefício não se dá na analogia de preços de 70% do preço do litro do álcool para cada litro da gasolina (como dizem), mas sim pouco acima de 60% posto que o etanol implica em maior efeito ao custo de manutenção. O álcool combustível, em sua produção incipiente não apresenta relação favorável de custos ao usuário como a gasolina, além de ocupar terras nobres como no interior do estado de São Paulo (qualidade do solo e proximidade com mercado consumidor) que deveriam ser priorizadas para produção de alimentos. Como? No mínimo não concedendo ali benesses de apoio do BNDES; e dali excluindo as renúncias fiscais dos produtos sucroalcooleiros que se destinassem à exportação. Socialmente e não só financeiramente aos “senhores de engenho” o fator uso do solo seria mais adequado e apropriado à nação; tal qual se faz na Europa e na Ásia.
Como já colocado, mesmo assim já (antes da decisão norte-americana) exportamos etanol; o que por si eleva a pressão sobre o mercado interno na forma de falta de produto e, por conseguinte eleva os preços. Apesar dessa ambiguidade, exportamos concedendo até renúncias previdenciárias , para azar dos aposentados da iniciativa privada; pois o segmento sucroalcooleiro, além de receber grande atenção do BNDES no governo Lula, com empréstimos a taxas reais negativas, faz parte de uma elite de segmentos empresariais que receberá R$ 150 bilhões em isenções ou renúncias de receitas ao Fisco no ano de 2012.
A produção de cana de açúcar na safra 2011/2012 tem estimativa de queda de 10% e à produção de etanol estima-se a queda de 29%. Este cenário, isoladamente já apresentaria fonte de preocupação ao mercado interno de combustível. Na contramão desses números, a entidade que representa o setor (UNICA) estima que as exportações para os Estados Unidos subam do atual patamar de 1,5 bilhão de litros/ano para 13,5 bilhões litros/ano (10% do consumo norte americano) E o nosso sonho em obter um custo menor por km rodado com a magnificência tecnológica dos nossos motores flex? Sobrará algum etanol? Só o tempo dirá; porém o que já sabemos é que o governo petista quase nada fez em termos de refinarias de petróleo, fala em pré-sal e autossuficiência num discursionismo que apenas perde para incompetência que lhe assoberba a cântaros, em especial na área energética e no planejamento a médio e longo prazo.
Na prática os norte americanos, que nunca dão ponto sem nó, compram o nosso álcool para que deles compremos gasolina que não produzimos em nossas colunas de refino. Num cenário ainda de oferta restrita de etanol e elevados preços do produto, a Petrobras vai conviver em 2012 (e até 2014 pelo menos), com mais um ano de importações crescentes de gasolina a fim de suprir a frota de veículos flex (?) do país.
"ARÁBIA DOS BIOCOMBUSTÍVEIS" |
Oswaldo Colombo Filho
O autor foi Diretor Executivo da Associação Brasileira de Gás Natural Veicular (ABgnv), e membro do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP)
O Estado de S.Paulo 27/12/2011
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