sábado, 14 de janeiro de 2012

Aprendendo com a Grécia

  Em artigo do Senador Cristovam Buarque – “Lições da Grécia” (05/01/12); editado no Caderno Opinião Pública – DM; o autor com saber e predicados próprio de um professor, e que bem sabemos que ele o é, atua na extração de lições que deveríamos como nação e governo aprofundar-nos no cerne da crise “helena”. Esta não advém de questões puramente econômicas, mas centra-se em aspectos sociais e civilizatórios calcados num senso de materialismo, ufanismo, populismo e nacionalismo exacerbado que tomou a sociedade grega nos últimos anos. Mais precisamente poucos anos antes de sua entrada oficial na União “Econômica e Monetária” da União Europeia, em 2001 – zona do Euro.  A Grécia, já era membro da União Europeia desde 1981.

No contexto atual, e em qualquer canto do mundo, um observador desprevenido do desordenado cenário de incertezas que vivemos, poderá conjecturar que toda essa questão tenha advindo daquilo que supõe ser originária da “ciência econômica”; assim, fazer desta a tábula rasa e que ali devam procurar e encontrar a salvação no pragmatismo irresponsável, em que se deleitam falantes economistas e principalmente gestores públicos. A gravíssima conjuntura que o mundo atravessa, é muito mais que uma “marola”, e certamente o mundo não emergirá o mesmo depois dela. Não é uma daquelas cíclicas situações, que possam se valer a dizer que estivéssemos passando por uma crise congênita à “evolução dos mercados” ou “crise do capitalismo”, ou de qualquer sistema político social que fosse. Foi produzida pelo chamado pensamento “neoliberal”, apoiado por Estados corrompidos e pelo sistema financeiro internacional, e em especial por todos seus agentes especulativos. Tais reformas, as neoliberais, nascidas, a partir dos anos 70, no chamado “consenso de Washington”, como uma resposta à crise da acumulação capitalista, e que sobre esse tema nada resolveu, aliás, sobre nada a que se propôs resolver resolveu, em especial sobre acúmulos de capital que contínua tal qual concentrado quanto antes. Onde a riqueza se dispersou na forma de renda, e assim é propagandeado por Governos, além de incipiente para o resgate da dignidade humana, é fomentado pelo assistencialismo, pelo consumo via crédito fácil e especulativo e a isto dão o nome de progresso e bem estar social. O tempo ainda nos mostrou, aqui mesmo no Brasil, o pleno endosso de tal politicagem em alforriar como se liberalidade fosse a economia e a gestão pública dos “constrangimentos e da força das urnas”. Isto é grande parte do que assistimos hoje no país onde temos um Legislativo fraco; corrupto, sem valores e expressão que apenas aprova protocolarmente as MP’s enviadas pelo Executivo; no ano de 2010, apenas 37. Este precário pensamento “libertino e não liberal”, de autorregulação fajuta do Estado para o Corporativismo especulativo, não só produziu o resultado da crise sistêmica de 2008, que vigora até hoje e sem data para acabar, como também veio a solapar os fundamentos sobre como se assentam as representações democráticas em vários países. Vemos Governos exigindo a troca de mandatários legitimamente eleitos pelos seus eleitores, e ainda ouvimos discursos contestatórios sobre ganhos sociais conquistados por sociedades democráticas ao trilhar de décadas e cujas perdas nada mais são do que transferências patrocinadas pelo pensamento neoliberal – vigentes no Brasil desde FHC.

Como economista, pretendo apenas completar o raciocínio do senador naquilo que é a “moderna tragédia grega”; e como em economia, que é a ciência responsável por mensurar as ciências sociais não se pode deixar de ponderar sobre ordens de grandeza, apesar de alguns economistas o fazerem por puro discursionismo; portanto deixando de exercer Ciências Econômicas. Chamo a atenção para um exemplo concreto e marcante a extrairmos da Grécia - a tarja populista e demagoga que a sociedade permitiu lograr-se pelos seus governantes que se valeram da velha e milenar performance do “circo alienante,” nos doze anos que antecederam deflagrar da atual crise. A promoção de megaeventos e seus custos socioeconômicos é uma lição específica e clara para tirarmos, pois o cômputo sempre virá e muitas vezes para além de uma geração, como no caso da Grécia. Afinal, é cabível essa introspecção a nós brasileiros, pois teremos os dois maiores e mais caros eventos esportivos do mundo - a Copa de Futebol e as Olímpiadas num intervalo de apenas dois anos, e a se iniciar daqui dois anos. 

Quando do ingresso da Grécia em 2001 na zona do Euro, não eram aceitos países cujos déficits públicos fossem superiores a 3%; a Grécia foi admitida com 3,2%; apenas um pequeno viés e que o governo grego se comprometeu a corrigir. Os gregos vinham de um sentimento ufanista e nacionalista imposto por um governo populista que conseguiu a indicação em 1997 para os jogos Olímpicos em 2004, já que tinham perdido a “indicação do século” que era a realização em 2000 que foi para a cidade de Sidney (Austrália), o que causou enorme frustração popular até influenciando nas eleições daquele mesmo ano, dando ao governo grego, ampla e decisória maioria no parlamento.

A Grécia é a segunda economia mais pobre do bloco do Euro em termos de PIB, é a 33º do mundo; contudo a sua renda per capita é de US$ 28.880; a 28ª do planeta. A título de analogia, a economia brasileira sendo a sexta economia, a se confirmar as previsões,   produz uma renda per capita de US$ 10.814; a 73ª do mundo.

Como o turismo era a principal fonte de renda da economia grega (15% do PIB antes da atual crise), empregando pouco mais de 17% da força de trabalho, esperava-se que a infraestrutura hoteleira já fosse razoavelmente adequada e que neste aspecto (turismo) o país conseguiria obter ótimo retorno aos investimos que certamente faria para o megaevento. O país recebia anualmente cerca de 17 milhões de turistas em média por ano, até 2008, e este número vem caindo assustadoramente até atingir cerca de 10 milhões, ou bem menos, segundo algumas estimativas para 2011, devido a problemas causados pelas constantes greves no país. Vale ressaltar que no ano das Olímpiadas esperavam o ingresso adicional de 2 milhões de turistas e apenas 400 mil a mais foram, e apenas metade disso durante e para o evento esportivo, pois os “pacotes” de estadia tinham preços abusivos. Resultado: - durante o evento ocorreram promoções (liquidações) em razão da baixa ocupação dos hotéis, que por sua vez causaram outra ordem de problemas, devendo os estabelecimentos hoteleiros devolver parte dos valores recebidos daqueles que pagaram caro e antecipadamente; e isto diante de numerosos protestos! Isto ocorria em todos os hotéis e basicamente a iniciativa de devolução partiu dos hotéis “estatais” – inúmeros antigos e recém-construídos (a maioria) – cujo objetivo era o de salvar a imagem da organização diante da imprensa internacional, face o notório fracasso financeiro do evento. Aliás, a participação estatal em hotéis, cassinos, barcos de passeios e até agencias de viagens é enorme - o que garante uma privilegiadíssima categoria de servidores públicos que no mínimo recebe 14 remunerações mensais no decorrer do ano. Não é novidade também que o Comitê Olímpico Internacional e a FIFA superestimem a presença de turistas e seus gastos em eventos para induzir organizadores locais. Na Copa da África do Sul previa-se (FIFA) o recorde de 1 milhão de turistas, seis meses antes da Copa baixou tal expectativa para 800 mil, e ao final foram efetivamente 409 mil. Tal qual cinco estádios foram  construídos para o evento e estão fechados desde do final da Copa, e há quartos em hotéis que mal foram utilizados também. A decisão de demolição de um dos estádios já foi tomada o que deverá acontecer com mais um ou dois em breve; pois é mais barato demoli-los do que mantê-los. Quem lucrou foi a FIFA, com US$ 4 bilhões, enquanto que os sul-africanos gastaram US$ 8,4 bilhões e ainda possuem problemas sociais pelas desapropriações causadas pelos estádios.
          
 Nas Olímpiadas de 2004, a Turquia se deu bem; - vizinha da Grécia, e que também faz parte do circuito marítimo do Mediterrâneo, igualmente possui no turismo fonte significativa de suas atividades. Recebe em média 31 milhões de turistas/ano, e no período das Olimpíadas gregas (com os preços aviltantes), recebeu quase um milhão a mais de visitantes naquele ano. - Interessante ao leitor é saber que o governo grego, através de seu comitê Olímpico fazia prever ao requisitar investimentos na área de turismo (e endividamento externo e interno), a estimativa de 20 milhões de turistas/ano a partir de 2010 em função da projeção que os jogos Olímpicos dariam ao país. Nos três últimos anos pouco mais da metade disso ingressou; ou seja, menos do que antes dos próprios jogos. Frisa-se o turismo mundial têm crescido constantemente e todos os países tem acompanhado tal crescimento. Em maior escala se apresenta a China e demais asiáticos; o Brasil pouco cresce além da média mundial (última década) e a América do Sul tão apenas participa com 2,26% do turismo global. Em 2010, ocorreram 7,2 milhões de “desembarques internacionais” no Brasil, em 2011 foram 8,2 milhões de pessoas, segundo o Ministério do Turismo (Infraero). Também segundo essa fonte, esse aumento ocorreu em face da projeção que o Brasil alcançou por se tornar sede da Copa e das Olímpiadas (?). Se for verdade essa assertiva “oficial”, então não precisamos do tal Ministério, pois não foi dele o mérito de coisa alguma; e se estiver errada tal versão, devemos nos apavorar, pois a Grécia passou a receber menos de 50% do que antes recebia, depois da realização dos jogos Olímpicos.   

Ainda a título de informação e analogia; em 2011 o Brasil obteve 8,2 milhões de “desembarques internacionais”, que representaram apenas 0,56% do fluxo mundial de pessoas em viagens internacionais; e conquistou 0,64% da receita mundial que estimativamente gravita neste campo de negócios. Indubitavelmente nos falta competência de políticas públicas nessa área, pois os números acima são insignificantes no contexto global– demostrando que, aquilo que de fato temos de forma preponderante é o “turismo de negócios”. Comprova-se ainda pela simples analogia ou benchmark com as demais economias latinas americanas que: - no Brasil o turismo participa com apenas 0,5% do PIB, contra 1,8% da Argentina; 1,9% do Chile; 8,1% da Costa Rica; 1,6% do México; 3,6% do Uruguai, o que demostra que mesmo diante dos vizinhos somos incompetentes em face do potencial que o nosso país possui, apesar de ser o único dentre estes a contar com um Ministério específico para tratar do assunto (!?). 

O México auferi quase US$ 30 bilhões de dólares/ano com o turismo internacional; França, Espanha e Itália superam US$ 50 bilhões (cada um), os USA o dobro disso. Já o Brasil auferiu US$ 6,1 bilhões; contudo, nossa balança é deficitária, pois os brasileiros (turistas) que foram ao exterior deixaram por lá US$ 19,4 bilhões (déficit -218%). Observando que em todos os países supracitados a balança é superavitária, até a norte-americana é praticamente equilibrada; comprova-se que os viajantes brasileiros gastam muito e o país recebe muito poucos turistas. Em recentes pesquisas divulgadas, o brasileiro é um dos que mais gasta nas lojas de NY.
Mas voltando ao tema e importância da reflexão do senador Buarque, - uma das lições que deveríamos extrair da Grécia, é de que eles também consideraram ufanisticamente que a realização das Olimpíadas traria exacerbadas e virtuosas contrapartidas sociais, que seriam legadas pelos vultosos investimentos.

Até o final de 2009, o governo e parlamento populista grego driblaram os problemas e a pressão internacional; porém pela combinação de fatores locais e internacionais; em suma pelo total descontrole de gastos do governo, a corrupção desenfreada, os gastos públicos e pagamentos a título de dívida pública associados a crise global que impediam a entrada de recursos para “rolagem”; a economia grega passou a enfrentar a mais grave crise econômica e social desde a restauração da democracia em 1974. Em fins de 2009, o governo compelido a recorrer ao Parlamento Europeu, viu os dados de seu déficit recalculados pelo Banco Mundial e FMI saltarem da falsa divulgação oficial de 6% para 12,7%. Já no início de 2010, foi revelado publicamente que os sucessivos governos gregos, aliás dos dois maiores partidos e suas coligações parlamentares que se formaram e que se sucederam nos últimos 12 anos, tinham sido responsáveis por ter consistentemente e deliberadamente deturpado as estatísticas econômicas oficiais do país para adentar e mantê-lo dentro das diretrizes da união monetária europeia. Isto tinha permitido que os governos do país gastassem além de suas possibilidades ao esconder o déficit real das auditagens da União Europeia (EU) e da própria sociedade grega; contudo não faltaram alertas pela imprensa local, análises de economistas independentes e denúncias de corrupção – a sociedade não deu ouvidos e reelegeu o regime. Em meados  de 2010, o déficit grego foi revisto para 13,6%, um dos mais altos do mundo em relação ao PIB e a previsão da dívida pública foi, de acordo com algumas estimativas, para 130% do PIB, no mesmo ano, uma das proporções mais altas do mundo. Impagável em uma única geração. 

OS JOGOS
A estimativa de gastos para realização dos jogos Olímpicos na Grécia era de  4,5 bilhões, - isto em 2002, bem mais que os  1,7 bilhões iniciais em 1997 quando ganhou direito de realização, e que o governo frisou que seria amplamente financiado pela iniciativa privada além do país receber os direitos transmissão pela TV. Tal o anúncio (oficial), assemelha-se ao feito no Brasil à época que fomos escolhidos para sediar a Copa do Mundo e as Olímpiadas por nosso governo . Vale notar que em parte o aumento de gastos na Grécia deveu-se à segurança, pois após 2001, com o ataque ao Word Trade Center (NY/USA), os custos relativos a este tópico, e para qualquer evento de grande porte, tal qual a Copa do Mundo, subiram assustadoramente. No Brasil, tão apenas o governo federal deverá investir em serviços de segurança mais de R$ 2 bilhões somente durante a Copa (estimativa preliminar).

 Os Jogos Olímpicos de Atenas 2004 foram a pá de cal sobre a economia Grega, dizem inúmeros e conceituados economistas europeus. Passados os Jogos já se revelavam através de denúncias e auditorias das Contas Públicas que o país havia ingressado na Comunidade Europeia falsificando dados sobre os superávits primários, - se valendo da agregação de fundos de previdência dos trabalhadores da iniciativa privada (Fundo IKA), para reduzir o enorme buraco causado pela previdência dos servidores públicos, que pagava benefícios até para pessoas já falecidas, além de pensões exorbitantes ao funcionalismo. Era o populismo, e principalmente o corporativismo e assistencialismo eleito pelos gregos que mostrava o seu custo. Mesmo diante dessa alarmante situação, os eleitores mantiveram basicamente a mesma gestão política nas eleições de 2006. Porém no início de 2007, após sucessivos escândalos de corrupção decorrentes das obras dos Jogos, especialmente pelo propositado atraso para que tudo custasse mais caro ao final, o Governo foi forçado a divulgar o balanço dos gastos totais com os jogos Olímpicos, e que ali apontados chegaram a  8,9 bilhões (R$ 21,0 bilhões); ou seja, 11% do PIB grego, mais que o dobro do oficialmente informou anteriormente. A muitos esse número ainda não mereceu credibilidade, pois faltaram tópicos a relacionar, e prevaleceu o parecer que deveriam constar os encargos financeiros inseridos na dívida pública que se relacionasse aos dispêndios que os jogos ocasionaram. Do total, e ao que chamam de legado efetivo em infraestrutura apenas 40% desse valor foi aplicado.   

As autoridades Europeias, em razão dos visíveis superfaturamentos das obras, exigem ali a consideração de tais fatos, pois uma vez ali arrolados não serão objeto de desconto a ser dado na dívida grega pelos bancos europeus. Isso (corrupção, “malfeitos”) será problema dos gregos e da sua Justiça. Em verdade, não é razoável transferir a outrem o prejuízo que a sociedade grega permitiu, mesmo com inúmeros escândalos divulgados em jornais. O acordo para evitar o default não prevê isso. “Que vão buscar as fortunas dos corruptos nos paraísos fiscais”- insinuou recentemente um porta-voz de uma das reuniões do Comitê gestor do parlamento Europeu (Bruxelas).

 A imposição dos países líderes da zona do Euro para a recente troca do governo grego, por tecnocratas, assim como medidas de austeridade e privatização produziu um alto preço a pagar pela nação que assentiu pelo descalabro diante da corrupção e do populismo travestido de nacionalismo e socialismo. O desemprego recorde de quase 18% atinge basicamente o setor público, mas em pior escala atinge a 35% entre os jovens de 15 aos 19 anos. Estes cortes podem e devem ser mais abrangentes ainda no serviço público e a bem da verdade são fatos realísticos. Acabou a “economia do faz de conta”; pura ilusão de compadres populistas e de idiotizados eleitores que achavam que a conta nunca viria. Porém se privatizados vários setores haverá ainda em curto prazo uma tendência e reemprego que não ocorre pela falta de desapego do sindicalismo local ao “que era doce e se acabou”. Por este ponto de vista há razoabilidade nas exigências de privatização de atividades de hotéis, restaurantes, fundos de previdência, bancos, empresas de navegação, energia e até agencias de turismo e tudo que o governo detém sem a mínima razão de ser ou de ter  para que se ressarçam os investidores sob risco de expresso default contingenciado por “má administração e visíveis atos de corrupção na gestão da coisa pública”, onde prevaleceu a tomada de recursos externos e até internos  afiançados pelo governo; ou seja pela nação que o elegeu para financiar essa festança nababesca.

As Olimpíadas de Sidney (2000), marcadas por um fantástico e maciço investimento em infraestrutura na cidade (legado local) custou R$ 11,8 bilhões de reais (custo atual), sendo que 60% das obras esportivas financiadas pela iniciativa privada. Na Grécia, conhecida como os jogos Olímpicos mais caros até hoje, mesmo tendo sido superados pelos de Pequim (pela relação valor/investimentos realizados - que se obteve entre um e em outro e o legado realmente efetivo); teve uma espécie de PAC com  7,2 bilhões de Euros (endividamento do governo), e  1,7 bilhão da iniciativa privada na forma de concessão, direitos de publicidade e transmissão etc. Dispensável dizer que o prejuízo ficou para o povo grego.

O LEGADO IMAGINÁVEL, E DEPOIS IMPAGÁVEL. 
A economia e a própria nação grega, após entrada na comunidade europeia contribuíram decisivamente para um padrão de endividamento público e pessoal mirabolante. Receberam sua “medalha de ouro” neste perverso sentido em debilitar o futuro de seus próprios filhos ao se habituarem às benesses do Estado e ou postulantes que se tornaram às facilidades de crédito fácil por injeções de recursos especulativos a taxas de juros altíssimas, e agora mais altas para no resgate da dívida. Alteraram de um momento para outro o padrão de vida, tornando-o insustentável. A Grécia possui 11 milhões de habitantes aproximadamente, sendo 4,1 milhões em Athenas, que um ano já antes dos jogos até os dias de hoje possui um custo de vida, ao cidadão comum, pouco abaixo do padrão de New York. Mais um presente de grego que os jogos trouxeram, a elevação foi enorme e persiste pelos expressos gargalos de falta de investimentos públicos. A isto decorre um outro fenômeno – a Grécia tinha até 20 anos atrás notável participação em suas riquezas provindas do setor agrícola, apesar de apenas 38% do seu território ser arável; contudo, os jovens de hoje estão abandonado as cidades, principalmente Atenas, para onde acorreram, atraídos por uma falsa ilíada de empreguismo e assistencialismo insustentável.  A dívida pública grega passa de € 300 bilhões, e os bancos instalados no país possuem um passivo com pessoas físicas de € 27,8 bilhões, dos quais 39% estão em atraso de pagamento há mais de seis meses. Para se ter uma ideia da magnitude desse endividamento das famílias, - as empresas gregas privadas, chegam a um endividamento bancário total de € 12,8 bilhões e a inadimplência não chega a 9%. A folha de pagamento do maior empregador na Grécia – o Governo, gasta 64,9% de tudo que arrecada segundo as previsões do banco europeu após os cortes já feitos com a folha de pagamento (ativos e inativos). No Brasil, o governo Federal supera 44%, outro descalabro!  Para outra simples analogia, somente o Brasil possui um Regime de Previdência para servidores públicos tal qual existia na Grécia e para com os seus servidores públicos. Agora somos os únicos. Nada igual em abuso ao erário público ou em manifesto contrassenso ao cálculo atuarial no planeta existe além do Brasil. Tal qual por lá existia até meses atrás, o desmedido assistencialismo na concessão de aposentadorias sem que o beneficiário ou segurado sequer precisasse de prévia contribuição. Eram concedidas a partir de 50/55 anos (pescadores, cultivadores de olivas, criadores de ovelhas e outros tantos ofícios); tal qual no Brasil; porém aqui persiste a dano de quem contribui na iniciativa privada – um prêmio à incompetência de quem é contribuinte. Deve ser algum toma lá dá cá de votos, e cuja similaridade com o Brasil é fatídica.


Passados sete anos da realização dos jogos, mais da metade dos locais onde foram realizados os eventos estão fechados e /ou desativados. Frisa-se que parte do parque aquático, totalmente abandonado, sequer foi concluído e utilizado nos Jogos.  Equipamentos foram vendidos a preços surreais para outros países, pois se tratavam de esportes não praticados na Grécia. O mais claro exemplo foi a venda por menos de 1/3 do valor de compra de todos os equipamentos de esportes sobre gelo para as Olimpíadas de inverno do Canadá. Logo após os Jogos; o governo se viu compelido a fechar a maior parte das instalações, mas mesmo assim gastou entre 2004 a 2008 a quantia US$ 300 milhões/ano para manutenção, e decidiu desfazer-se de tudo a preços ridículos. Inúmeros locais, além do parque aquático, mas também as raias de canoagem, quadras de treinamento para atletismo, ciclismo, hipismo etc.. foram literalmente abandonadas pelo governo ou por ações judiciais de fornecedores; porém nos projetos originais, ufanisticamante apresentados pelos organizadores, seriam transformados em parques abertos à população após os Jogos. O ministro dos Transportes foi afastado na época sob a acusação de corrupção ocorrida num dos legados efetivos - uma linha de Metrô em Athenas. Além desse, um novo Aeroporto na capital foi construído; pois o antigo já não respondia pelo movimento; contudo, o antigo continua abandonado desde o dia em que foi desativado, num completo relaxo ao erário. 

Mesmo assim os gregos receberam de si mesmo – “um presente de grego” a maior dívida já contraída na história moderna por um país; seu déficit público estimado em 10,5% para 2012, exige cortes de gastos públicos profundos, a privatização de todas as besteiras que o Estado fez, e vem fazendo há décadas com seu “pseudosocialismo de compadres”. Inclusive as instalações de dois dos três complexos Olímpicos deverão ser privatizadas, sendo que uma delas sequer foi aberta depois de 2004.

 Segundo últimas auditagens o custo do legado Olímpico, posta toda má gestão; os sobre- preços e juros escorchantes dos empréstimos; manutenção de prédios até hoje, além de recuperação necessária; custo oportunidade pela não utilização destas áreas e estruturas enormes, chega (valores atualizados)  14,8 bilhões (R$ 34,8 bilhões). Festa caríssima! E nestes 6 anos pós farra, e de forma apontada pelo banco Europeu, o déficit público Grego subiu de 5,3% para 13,4%; exatamente quando atitudes mínimas e saneadoras deveriam ter sido feitas . Pergunta-se, quantas gerações serão necessárias para pagar por essa farra de irresponsabilidades? – No mínimo duas. - A dívida Grega à época era 1/3 da atual, e era considerada digna de grande preocupação; portanto a “farra” a irresponsabilidade da invencionice de resultados, do “aparente estrelato” de um país no cenário global ampliou em 15% o endividamento que já era absurdo pela indução de se fazer apto a sediar os jogos Olímpicos– “foi a derradeira pá de cal ao futuro de alguns milhões de gregos que ainda vão nascer”.

O senador Buarque, ao final do seu artigo nos coloca, com a pedagogia e sabedoria que lhe é peculiar, que esse exemplo “civilizatório nos dá uma prova de fracasso; conduz-nos a uma reflexão”. Eu completo:- o Brasil sediará num intervalo de apenas dois anos, os dois maiores eventos esportivos do mundo; a Copa de Futebol e as Olímpiadas. O primeiro já possui gastos dimensionados pela associação das Construtoras envolvidas em todos os processos no valor já superior a R$ 80 bilhões, e  bem sabemos que muita coisa sequer foi licitada; portanto; bem sabemos que deverá chegar ou talvez ultrapassar R$ 100 bilhões. Numa primeira e conservadora estimativa, os jogos Olímpicos do Rio (2016) tem previsão (inicial), segundo seus organizadores em R$ 28,8 bilhões Os jogos Olímpicos de Londres (2012) custarão R$ 25 bilhões de reais. Vale lembrar que os jogos Pan-americanos no Rio custaram quatro vezes mais que o orçamento inicial, qual o legado que deixou? Ou a cidade do Rio passará em menos de uma década, como sede específica por dois eventos Olímpicos desse porte, além da participação derradeira na Copa de futebol, e depois disto ainda continuará a ter favelas? Se assim for será incontestável dizer que tais eventos não deixam legado algum aos povos que os promovem; agora quanto a construtoras e políticos é uma outra história os benefícios auferidos.

 Todo valor gasto a ser gasto nos grande megaeventos no Brasil, nos próximos quatro anos , além do e tempo empregado, custo de oportunidade, resolveria a questão de saneamento básico do país (maior causa de mortalidade infantil), elevaria abruptamente a qualidade do ensino básico e médio, e serviria para alavancar bisonhamente várias obras de infraestrutura. Tudo isso é tão necessário à competitividade e bem estar do país, mas a opção foi outra pelos nossos governantes  que foram tal qual na Grécia escolhidos pelo povo. . . tal qual o legado e custo lhes pertencerá (?) 
     
Como disse o senador Buarque vale nossa reflexão para que possamos dar efetivo sentido de bem estar às nossas vidas; às carências sociais, e não a sonhos e discursos furtivos de populistas e demagogos. Concluindo, aos dados acima sobre a Grécia, bem como às analogias dispostas que traçam algumas poucas semelhanças com “outro país”, não é coincidência alguma, trata-se do mesmo trilhar de um caminho errado, irresponsável e cuja volta pode custar anos do bem estar de mais de uma geração de brasileiros, - nossos filhos e netos. Vale refletir sobre a irresponsabilidade de não agir nesta hora, de não protestar com veemência; e pelo nefasto silêncio da atual geração diante de tantos descalabros que estamos assistindo dessa politicalha que dirige o nosso país e precariza o nosso futuro e daqueles que nos seguirão.

   Oswaldo Colombo Filho
Publicado no Diário da Manhã (13/01 e 14/01/2012)
          Movimento Brasil Dignidade

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