Não há responsabilidade nem
relevância tratar sobre previdência social sem análise dos efeitos e resultados
de todos os regimes e subsistemas existentes, e tão apenas depois correlacionar
o que aqui acontece ao que sobrevém em outros países. No RGPS anuncia-se o
“saldo previdenciário negativo” de R$ 35,6 bilhões em 2011. De seus dois
subsistemas, o urbano-previdência trabalhista e de caráter contributivo,
obteve-se o saldo previdenciário, ou primário positivo de R$ 20,5 bilhões, é o
único superavitário no Brasil. No rural, assistencialista, e sem caráter
contributivo, e que subvenciona um melhor padrão de vida à terceira idade na
zona rural, o saldo negativo foi de R$ 56 bilhões (1,4% do PIB). O rural é eminentemente assistencialista, pois dos
quase 8,5 milhões de beneficiados apenas 16 mil o são por contribuição.
Somente a previdência do
funcionalismo público federal (RPPS), nas três esferas, (Executivo, Judiciário
e Legislativo), corresponde a 5,13% do PIB. A média na OCDE é de 2,0% para todo
tipo de funcionalismo. Estudos da mesma entidade demostram que no grupo de 26
países considerados em estágio de desenvolvimento, a incidência média é de 1,5%
do custo do funcionalismo sobre o PIB. Menos de um milhão de ex-servidores
federais geraram em 2011, R$ 56 bilhões somente em déficit, valor este que
cresceu 9,8% em relação a 2010; ou que cresceu 91% em relação a 2002 (R$ 29,4
bilhões). Estima-se para 2012 que ultrapasse R$ 61 bilhões (1,47% do PIB) - um
acréscimo de 9% em termos absolutos ao ano passado. O Tesouro cobriu em 2011
tal déficit, ao custo médio por ex-servidor ao valor equivalente a três vezes a
renda per capita brasileira. Nem a Grécia conseguiu tal proeza. Apenas 0,5% da
população consome o equivalente (em déficit) a 83% daquilo que se gasta com a Saúde
Pública aos 99,5% restantes brasileiros. 4% dos aposentados brasileiros são
responsáveis por quase 5o% do déficit previdenciário do país. Enquanto a
previdência do funcionalismo público federal (menos de um milhão de pessoas)
correspondeu a 5,13% do PIB, - o total do RGPS, incluindo os 3,6 milhões de
beneficiários atendidos pela Lei Orgânica de Assistência Social-LOAS (total
geral de 27,9 milhões de pessoas) representou 7,71% sobre o PIB. Temos o mais absurdo mecanismo de
concentração de renda do planeta, cujo déficit crescente acumula desde 2003 -
R$ 378,9 bilhões (1,7% do PIB).
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O custeio de pessoal dentro das despesas do setor público
federal é altamente significativo. Em 2011 foi de R$ 197,4 bilhões (4,8% do
PIB). Isto num país que possuía uma dívida pública total R$ 2.600,7 bilhões
(62,8% do PIB) em dezembro de 2011.
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A Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público (FUNPRESP),
proposta do governo enviada ao Congresso, dará uma economia de R$ 26
bilhões/ano a partir de 2035, segundo o Ministério da Previdência Social; ou
seja, apenas 50% do atual déficit. Contudo, só atingirão as novas contratações,
até lá o contribuinte arcará com o incoerente e crescente déficit que os atuais
inativos originam e que os quase 2 milhões de servidores ainda ativos causarão
quando se aposentarem. A solução é medíocre, paliativa e absurdamente distante
da realidade brasileira. Apenas agrada a quem não se inteirou dos fatos e
números. Fato ainda, que esse “fundo previdenciário” a ser criado, se juntará
ao outros que chegam a 8,1 % do PIB e que já estão sob a administração de
pessoas conhecidas da malta petista – José Dirceu; Luiz Gushiken, e Ricardo
Berzoini, que “por acaso” é o relator desse projeto de lei na Câmara.
A contribuição excedente; ou seja, para o Funpresp pelo
servidor é um grande negócio, pois esta associada a igual contribuição do Estado
(nós a sociedade é que na verdade custearemos), sendo que a imagem de que a
tese de que se iguala à iniciativa privada nada cai por terra. Ora o
trabalhador da iniciativa privada possui esse direito junto ao seu empregador?
Não, mas os governistas defenderam a tese de que os trabalhadores da iniciativa
privada possuem o FGTS. O FGTS serve para servir a outra garantia que os
Funcionários Públicos já possuem em larga escala que é a estabilidade no
emprego, ou seja, são vitalícios o que ao invés de ser apenas um atrativo. De
fato é uma atrativo à carreira mas comprovadamente transforma, depois do
ingresso num contingente de baixíssima produtividade. Realidade bem distinta do
setor privado. As grandes corporações nacionais e internacionais que oferecem
contribuição a fundos de previdência aos seus funcionários e altos executivos,
o fazem em média de até 4,2% e sobre tetos limites; nosso governo em 8,5% sem
limite somente chegando ao que a Constituição ora permite quase R$ 27 mil; o
que raramente e encontra na iniciativa privada. Assim apenas está regulamentando o que de fato
é o déficit dantesco da Previdência do Funcionalismo Público Federal – RPPS.
Até a imensa maioria dos servidores (novos) estarem
efetivamente aposentados, o déficit do RPPS só subirá, pois obterá menor
arrecadação junto aos ativos e também menor junto ao empregador (Estado). Quem
banca essa despesa adicional ou custo de transição que pode ser de 0,5% do PIB
(segundo IPEA) – mais de R$ 5 bilhões ao ano cumulativamente pelos próximos
13/15 anos e depois disso começar a baixar? As autoridades deram alguma
explicação de onde virão os recursos para isso, assim como alegam que não podem
conceder aumentos aos aposentados por falta de recursos? Em dezembro 2011
existia uma relação de 1,22 servidores federais ativos para cada servidor inativos,
desta simples relação pode-se perceber que no mínimo por duas décadas haverá
efeito desse déficit ainda reticente onde nenhuma medida de imediato, tal como
foi aplicado o fator previdenciário ocorre.
Continua sendo uma solução cara a um custo imeritório pelo
serviço prestado por um Estado que jamais prestará tal qual nível daquele que é
e será remunerado. Mesmo com as remunerações no presente e em estado futuro quando
de aposentadorias não há nada igual no planeta, nem mesmo para militares norte-americanos
que serviram no Iraque e Afeganistão, e das mais altas patentes. E aqui apenas
estamos falando dos civis; portanto uma medida paliativa de solução em longo
prazo que apenas trocará parte do se apresentava como hoje déficit por uma
rubrica nas contas de custeio de pessoal intitulada “transferências para o
Funpresp”, e no grupo de receitas um aumento considerável àqueles que optarem
pela inscrição no Funpresp, que acredito seja a grande maioria; pois bastará
ter remuneração superior a 6,3 salários mínimos (R$ 3.916,20), que é o “lixo”
ou teto a que o Lulopetismo reduziu o RGPS que antes era dez mínimos.
Salário médio em 2011 dos funcionários públicos federais
Poderes
da União
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Ministério Público da União
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19.971,00
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Legislativo
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16.081,00
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Judiciário
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12.232,00
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Empresas Públicas
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9.363,00
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Executivo Civil
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6.647,00
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Sociedade de Economia Mista
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6.374,00
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Executivo Militar
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4.776,00
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Fundo
Const. do Distrito Federal
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4.406,00
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Observação, na média, já em 2011,todos
acima do limite que já é estabelecido em 2012 para o Funpresp. O rendimento médio
dos servidores públicos federais foi de R$ 7.980,20/mês em 2011, enquanto que a
média/mês per capita nacional para os trabalhadores formais nas atividades
privadas foi de R$ 1.650,00 (79,32% menor).(rendimentos brutos)
Os militares respondem por 40% do déficit e é
a pior parte dele se assim pudermos definir. Contribuem com apenas 1,5% e mais
7,5% para cobertura e repasse aos seus herdeiros. Repito herdeiros, pois tal
qual no império todo militar que tenha ingressado nas forças armadas até
31/12/2000, poderá deixar sua pensão à esposa e depois dessa à filha solteira
(até adotiva). Dessa forma uma pensão militar raramente dura menos de 30 ou 40
anos e até 50. Filha de oficial não se casa, basta juntar os trapos, afinal já
nasce com direito à aposentadoria do pai.. Há montepios de militares vigentes a
herdeiros desde o tempo do Marechal Deodoro. Em 2011 o Ministério da Defesa
teve uma despesa total de R$ 62,7 bilhões, sendo R$ 39,1 bilhões (62,36%) com
pessoal militar, e R$ 23,6 bilhões (37,64%) de gastos com outros custeios e
investimento. O que chama a atenção é a participação do custeio dos inativos. Dentre
o total de R$ 62,7 bilhões gastos com pessoal, R$ 37,3 bilhões foram com os
inativos, 59,5%, restando 40,5% para os ativos.
Outro a essa questão: - hoje as empresas se empenham junto
ao governo para desonerar as folhas de pagamento (reduzir a cota empregador do
INSS); e o Governo opta por pagar previdência complementar? Estamos produzindo
o custo Brasília. De um temos custo Brasil que agrava a competividade e do
outro é o custo Brasília que é da incompetência, do paternalismo, da corrupção e
do clientelismo? Quem disser que esse sistema (Funpresp) ora adotado pelo RPPS
é igual ao do RGPS ou está muito desinformado ou mal intencionado.
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Fonte Jornal Folha de S.Paulo |
Um servidor contratado pelo novo regime tem a possibilidade
do Funpresp, que não existe na iniciativa privada; sua aposentadoria será igual
a do RGPS, mas ainda gozará dos rendimentos do fundo. Mas qual servidor não
investirá nesse fundo levando consigo o Estado a contribuir?
O Estado brasileiro ainda paga mal
e injustamente dentro dos mínimos preceitos de justiça social e que a nação
necessita. Não há como conceber que um Juiz brasileiro receba, no mínimo e sem
as benesses, tal qual um Juiz Federal norte americano, lá onde a renda per
capita é 4,5 vezes maior que a daqui. Tal qual conceber que uma dessas
“excelências” receba ao ano, com suas imorais benesses, aquilo que três dúzias
ou mais de policiais, professores, ou médicos nos serviços públicos recebem. A
proposta que o Governo apresenta pode ser salutar quanto às novas contratações
e vem com atraso de décadas; porém também é necessário, tal qual nas economias
sérias ou nas que estão forçosamente se ajustando neste específico sentido-
aposentadoria dos servidores públicos (Grécia, Portugal e Espanha), a redução
da “taxa de reposição”; ou seja, da relação do valor do benefício para com a
última remuneração do servidor. Enquanto no Brasil é de 100%; ou muito próxima
a isso; nas nações ricas da OCDE, variam aos seus servidores entre 50% e 65%%
no máximo. Tal qual a existente no Brasil não há mais nenhuma, a que se
assemelhava era a grega, e que foi rebaixada compulsoriamente na recente
renegociação de sua dívida a no máximo 57%, a depender do valor do benefício e
valendo de imediato para os atuais aposentados do serviço público. No Brasil
não só isto bastaria, é necessário ainda que os reajustes doravante ocorram
apenas pela variação do INPC e não pela paridade dos colegas da ativa que
recebem produtividade. Assim, talvez em 2035 a sociedade brasileira deixe de
ser exageradamente espoliada por uma minoria – “os cidadãos de primeira classe,
os servidores públicos federais” - que oferecem serviços de quinta categoria
diante das necessidades da nação que sobejamente lhes paga.
Oswaldo Colombo Filho
O Estado de S.Paulo 01/03/2012